CECCANTINI,
João Luís. Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. In:
SANT´ANNA, Affonso Romano de. Mediação de
Leitura – Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo:
Global, 2009.
Ideias
centrais e questões
-
O século XXI é marcado pelo paradoxo de ser o século em que mais se lê, e,
também ser o século em que se menos lê.
-No
Brasil, onde, há menos de um século, o nível de analfabetismo chegava a 80%, o
mercado editorial cresceu significativamente, evidenciado pelo grande número de
vendas de best-sellers e pelo enriquecimento de escritores.
-
A leitura em alta no Brasil é expressa pelo grande investimento no mercado do
livro: Expansão dos postos de venda, rápida tradução de livros estrangeiros,
criação de novas editoras, juntamente com inúmeras novas obras, projetos de
compras e distribuição de livros, realização de eventos como as bienais dentre
outros.
-
No entanto, ainda há um número reduzido de brasileiros que dominam a leitura de
forma integral, ou seja, construíram habilidades de compreender e dialogar com
os textos lidos.
-A
diminuição da leitura, registrada por inúmeras pesquisas, é percebida no
contexto da leitura literária, mais especificamente na relação com cânones ou
obras clássicas.
-A
leitura é visualizada em outros tipos de textos como os de natureza religiosa,
autoajuda e entretenimento. As pessoas buscam nas leituras unir a ficção e as
informações consideradas necessárias.
-
O tipo de leitura do grupo alfabetizado de hoje é diferente daqueles que liam
em outros tempos.
-A
leitura ainda é algo inferior ao desejável, levando em consideração critérios
qualitativos: suportes, escolha de obras, consistência da leitura realizada.
-A
leitura hoje depende de variáveis como politica, econômica e educacional.
*Questões:
-Quais
classes acessam mais a leitura no Brasil?
-Como
garantir que as políticas de incentivo sejam verdadeiramente efetivadas no
contexto das classes mais baixas?
-
Ceccantini, propõe discutir dois tópicos ligados à mediação de leitura, que
para ele é um aspecto essencial para a formação do leitor literário.
-
O primeiro tópico refere-se aos avanços no campo da leitura, principalmente na
mediação das séries iniciais que tem garantido a formação do leitor literário.
O segundo aponta o que muito tem a se fazer para manter o leitor literário
formado no contato com a leitura, já que após os anos iniciais há um
afastamento relevante.
-
Desde 1970, no Brasil, há uma corrente que reconhece a importância de haver um
contato precoce da criança com livros e com a leitura. Isso porque “esse
contato cria condições favoráveis para que a criança se transforme num jovem de
comportamento de leitor assíduo e capaz de encontrar na leitura múltiplos
sentidos para sua vida.” (CECCANTINI, 2009, p.210)
*Questão:
-Se
a leitura é algo importante para a formação do sujeito cultural porque não há
uma maior efetivação de um trabalho verdadeiramente sistematizado, nos
diferentes níveis de ensino, que garanta a formação e a continuidade do acesso
à leitura do leitor ao longo de toda a sua vida?
-
Saindo da ideia naturalista de que a leitura é um caminho espontâneo, passa-se
a reconhecer o importante papel de mediadores da família e da escola.
-
As posturas adotadas pelas famílias em relação à leitura, refletem diretamente
na formação e nas escolhas das crianças.
-
De acordo com pesquisas, apontadas por Ceccantini, algumas práticas familiares
podem estimular a relação longínqua e duradoura com a leitura: (p.211)
·
a leitura de historias aos filhos desde
a primeira infância, impregnando de afetividade tanto o ato de ler quanto as
obras lidas;
·
a ampla disponibilização de livros e
materiais de leitura diversificados e de boa qualidade;
·
a leitura cotidiana de livros, jornais e
revistas de modo a oferecer modelos positivos de leitura, que possam ser
continuamente introjetados pelas crianças;
·
o debate frequente das leituras
realizadas pelos integrantes da família;
·
a constante visita a bibliotecas, feiras
do livro, bate-papos com escritores e ilustradores, entre outras
possibilidades.
*Questão:
-Existe
uma grande diferença entre famílias de classes médias e classes baixas. Como é
possível haver o incentivo à leitura dentro do contexto de famílias com acesso
restrito a esses bens culturais?
-A
realidade brasileira apresenta grandes impedimentos para ações como essas
propostas, já que a maior parte da população não tem acesso a esses bens
culturais.
-A
escola tem se transformado como a principal mediadora de leitura para as
crianças brasileiras. (pesquisas)
-
(...) o ensino brasileiro amadureceu muito no sentido de promover atitudes
afirmativas e comportamentos mais ativos em relação à leitura, talvez como
resultado de anos a fio de debate do tema nas mais diferentes esferas.
(CECCANTINI, 2009, p.212)
-
A “hora do conto” nas escolas é uma prática rotineira e faz parte tanto do
espaço da biblioteca, quanto da sala de aula. É visto como uma forma de
propagar um gesto milenar e proporcionar a construção de sentidos.
-Espera-se
que a escola de hoje proporcione um espaço ampliado para a leitura, já que não
é possível ignorar “a contribuição significativa que um gesto simples como
esse, desde que reiterado, tem para a formação de leitores” (CECCANTINI, 2009,
p.214)
-A
prática sistematizada e criativa da leitura, no contexto escolar, tem
possibilitado o aumento de leitores no Brasil.
-As
práticas de leitura na escola tem trazido consequências positivas como o acesso
à bibliotecas, escolhas literárias e construção de gostos.
-
Se a construção de um espaço para a leitura na escola, mesmo que pequeno, tem
trazido resultados positivos, Ceccantini aponta para a necessidade de haver
maiores investimentos nessas ações.
-
A mediação da leitura na escola precisa ocupar um lugar central nas práticas.
-
A mediação da leitura, de acordo com Camacho (2008) precisa contar com um
mediador que se envolva no processo de ler, na escolha da obra, no entusiasmo
do trabalho e no acesso a diferentes livros de qualidade.
-
O papel do mediador é importante nesse processo, cabe a ele ser praticante e
apaixonado pela leitura. E, nesse sentido ele deve construir hábitos de leitura,
motivar o “ler por ler”, selecionar e facilitar diferentes leituras para
distintas idades, orientar a leitura extraescolar.
-
Há, no papel do professor, um conflito, já que ele precisa ser mediador, ser
professor, e fazer uso e incentivar o ler por ler.
-Há,
nesse contexto, um grande conflito entre o desejo de ler a literatura sem
nenhuma intenção que não a de ler e as demandas dos saberes escolares. Fala-se
então do utilitarismo da Literatura no contexto escolar.
-
Fernandez Paz (1994), sugere-se que o utilitarismo, as vezes necessário,
caminhe com as novas possibilidades com a Literatura, entendendo que o acesso
ao livro pode possibilitar para outras aprendizagens. Assim, o livro pode ser
visto com uma possibilidade de interação lúdica, ampliando a visão de mundo e
construindo novas histórias.
-
O uso não utilitarista da leitura não é o mesmo que não ter uma direção
sistematizada. O contato com a Literatura precisa acontecer, na escola, de
forma organizada e planejada.
-
Esse pesquisador propõe que o professor deve sempre ter a consciência de que “o
processo de animação e que seu propósito central deve ser o de levar a criança
a ler, não para que realize esta ou aquela atividade, mas ler para si mesma,
ler para atender a uma necessidade interna, ler para satisfazer um gosto
pessoal, aspectos que cabe ao mediador criar as condições para que aflorem
plenamente.” (CECCANTINI, 2009, p.218). E para isso há diferentes ferramentas
disponíveis para o professor se formar e construir sua prática.
-Para
que haja uma formação efetiva do leitor literário não é suficiente somente o
esforço do professor mediador, é necessário haver um esforço conjunto de
diferentes âmbitos sociais como família, estado e instituições que lidam
diretamente com o livro. E o trabalho deve acontecer constantemente.
-
A continuidade do acesso a leitura e da formação do leitor literário tem sido
interrompida na transição entre a infância para a adolescência e da
adolescência para a fase adulta. Quanto mais velho fica o leitor, menos ele tem
lido no Brasil. Há, nesse sentido, falta de investimento em uma formação perene
e, não somente na formação inicial.
*Questões:
-O
que ocorre com a formação do leitor literário na transição dos anos iniciais de
formação para os subsequentes?
-
O que se pode fazer para que os adolescentes e jovens permaneçam motivados
nessa relação com a leitura literária?
-Qual
é o papel do professor nesse contexto?
-A
escola não avançou no trabalho com a juventude. O jovem somente lê no contexto
escolar com a intenção de cumprir uma obrigação. No entanto, há pesquisas que
dizem que o jovem ainda lê.
-
Ceccantini aponta que deve haver um maior investimento posterior às séries
iniciais para que a formação do leitor literário não se resuma a uma formação
inicial. E, para isso são apontados diferentes pontos que atrapalham esse
processo no trabalho com adolescentes e jovens, dentro do contexto escolar,
como o menor tempo de investimento para a leitura, falta de politicas de
incentivo, grande instrumentalização da leitura nesses anos de escolarização,
dentre outros.
-
Um ponto central para essa queda na leitura do jovem é o fato da escola ainda
não conhecer plenamente o mundo juvenil. A não sabendo lidar com essas questões
provoca reações agressivas, apatia e indisciplina nos jovens.
-O
trabalho com a mediação da leitura para jovens, de acordo com Ceccantini, pode
ter a essência do que é feito com as crianças, no entanto, deve-se buscar os
interesses dos jovens e o foco deve ser em ações coletivas.
-
E, nesse sentido, as práticas de leitura com os jovens pode estar baseada em
atividades coletivas com livros dentro do contexto de fanfictions, blogs, protagonismo juvenil e trabalho voluntário.
-
Outra possibilidade de contato com a leitura literária para o jovem leitor é
fazer com que ele se torne mediador de leitura de sujeitos com idades
inferiores a ele.
*Questão:
-Como
fazer o jovem se tornar responsável por sua continuidade na formação literária?
-Há
diferentes aspectos referentes à mediação de leitura que precisam ser
observados nesse processo. De acordo com Ceccantini, a qualidade das obras
literárias, o olhar para aspectos gráficos, editoriais, imagéticos e textuais
são essenciais para garantir uma interação plena.
-Para
finalizar, o que pode ser dito sobre as contribuições do texto de Ceccantini é
que muito se caminhou em relação ao contato com a leitura e a formação
literária nos anos inicias da escolarização, mas também há uma decadência em
relação à continuidade da formação literária de adolescentes, jovens e adultos:
-“...
a leitura no Brasil, configura um contexto bastante complexo e paradoxal, em
que se sobrepõem aspectos díspares, ora sugerindo uma visão mais positiva do
problema, ora apontando para uma dimensão mais sombria da questão, em que se
divisam os muitos obstáculos ainda a se superar." (CECCANTINI, 2009,
p.228)
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