segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Síntese e reflexões do texto: Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. João Luís Ceccantini

CECCANTINI, João Luís. Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. In: SANT´ANNA, Affonso Romano de. Mediação de Leitura – Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.


Ideias centrais e questões
- O século XXI é marcado pelo paradoxo de ser o século em que mais se lê, e, também ser o século em que se menos lê.
-No Brasil, onde, há menos de um século, o nível de analfabetismo chegava a 80%, o mercado editorial cresceu significativamente, evidenciado pelo grande número de vendas de best-sellers e pelo enriquecimento de escritores.
- A leitura em alta no Brasil é expressa pelo grande investimento no mercado do livro: Expansão dos postos de venda, rápida tradução de livros estrangeiros, criação de novas editoras, juntamente com inúmeras novas obras, projetos de compras e distribuição de livros, realização de eventos como as bienais dentre outros.
- No entanto, ainda há um número reduzido de brasileiros que dominam a leitura de forma integral, ou seja, construíram habilidades de compreender e dialogar com os textos lidos.
-A diminuição da leitura, registrada por inúmeras pesquisas, é percebida no contexto da leitura literária, mais especificamente na relação com cânones ou obras clássicas.
-A leitura é visualizada em outros tipos de textos como os de natureza religiosa, autoajuda e entretenimento. As pessoas buscam nas leituras unir a ficção e as informações consideradas necessárias.
- O tipo de leitura do grupo alfabetizado de hoje é diferente daqueles que liam em outros tempos.
-A leitura ainda é algo inferior ao desejável, levando em consideração critérios qualitativos: suportes, escolha de obras, consistência da leitura realizada.
-A leitura hoje depende de variáveis como politica, econômica e educacional.

*Questões:
-Quais classes acessam mais a leitura no Brasil?
-Como garantir que as políticas de incentivo sejam verdadeiramente efetivadas no contexto das classes mais baixas?

- Ceccantini, propõe discutir dois tópicos ligados à mediação de leitura, que para ele é um aspecto essencial para a formação do leitor literário.
- O primeiro tópico refere-se aos avanços no campo da leitura, principalmente na mediação das séries iniciais que tem garantido a formação do leitor literário. O segundo aponta o que muito tem a se fazer para manter o leitor literário formado no contato com a leitura, já que após os anos iniciais há um afastamento relevante.
- Desde 1970, no Brasil, há uma corrente que reconhece a importância de haver um contato precoce da criança com livros e com a leitura. Isso porque “esse contato cria condições favoráveis para que a criança se transforme num jovem de comportamento de leitor assíduo e capaz de encontrar na leitura múltiplos sentidos para sua vida.” (CECCANTINI, 2009, p.210)
*Questão:
-Se a leitura é algo importante para a formação do sujeito cultural porque não há uma maior efetivação de um trabalho verdadeiramente sistematizado, nos diferentes níveis de ensino, que garanta a formação e a continuidade do acesso à leitura do leitor ao longo de toda a sua vida?

- Saindo da ideia naturalista de que a leitura é um caminho espontâneo, passa-se a reconhecer o importante papel de mediadores da família e da escola.
- As posturas adotadas pelas famílias em relação à leitura, refletem diretamente na formação e nas escolhas das crianças.
- De acordo com pesquisas, apontadas por Ceccantini, algumas práticas familiares podem estimular a relação longínqua e duradoura com a leitura: (p.211)
·         a leitura de historias aos filhos desde a primeira infância, impregnando de afetividade tanto o ato de ler quanto as obras lidas;
·         a ampla disponibilização de livros e materiais de leitura diversificados e de boa qualidade;
·         a leitura cotidiana de livros, jornais e revistas de modo a oferecer modelos positivos de leitura, que possam ser continuamente introjetados pelas crianças;
·         o debate frequente das leituras realizadas pelos integrantes da família;
·         a constante visita a bibliotecas, feiras do livro, bate-papos com escritores e ilustradores, entre outras possibilidades.

*Questão:
-Existe uma grande diferença entre famílias de classes médias e classes baixas. Como é possível haver o incentivo à leitura dentro do contexto de famílias com acesso restrito a esses bens culturais?

-A realidade brasileira apresenta grandes impedimentos para ações como essas propostas, já que a maior parte da população não tem acesso a esses bens culturais.
-A escola tem se transformado como a principal mediadora de leitura para as crianças brasileiras. (pesquisas)
- (...) o ensino brasileiro amadureceu muito no sentido de promover atitudes afirmativas e comportamentos mais ativos em relação à leitura, talvez como resultado de anos a fio de debate do tema nas mais diferentes esferas. (CECCANTINI, 2009, p.212)
- A “hora do conto” nas escolas é uma prática rotineira e faz parte tanto do espaço da biblioteca, quanto da sala de aula. É visto como uma forma de propagar um gesto milenar e proporcionar a construção de sentidos.
-Espera-se que a escola de hoje proporcione um espaço ampliado para a leitura, já que não é possível ignorar “a contribuição significativa que um gesto simples como esse, desde que reiterado, tem para a formação de leitores” (CECCANTINI, 2009, p.214)
-A prática sistematizada e criativa da leitura, no contexto escolar, tem possibilitado o aumento de leitores no Brasil.
-As práticas de leitura na escola tem trazido consequências positivas como o acesso à bibliotecas, escolhas literárias e construção de gostos.
- Se a construção de um espaço para a leitura na escola, mesmo que pequeno, tem trazido resultados positivos, Ceccantini aponta para a necessidade de haver maiores investimentos nessas ações.
- A mediação da leitura na escola precisa ocupar um lugar central nas práticas.
- A mediação da leitura, de acordo com Camacho (2008) precisa contar com um mediador que se envolva no processo de ler, na escolha da obra, no entusiasmo do trabalho e no acesso a diferentes livros de qualidade.
- O papel do mediador é importante nesse processo, cabe a ele ser praticante e apaixonado pela leitura. E, nesse sentido ele deve construir hábitos de leitura, motivar o “ler por ler”, selecionar e facilitar diferentes leituras para distintas idades, orientar a leitura extraescolar.
- Há, no papel do professor, um conflito, já que ele precisa ser mediador, ser professor, e fazer uso e incentivar o ler por ler.
-Há, nesse contexto, um grande conflito entre o desejo de ler a literatura sem nenhuma intenção que não a de ler e as demandas dos saberes escolares. Fala-se então do utilitarismo da Literatura no contexto escolar.
- Fernandez Paz (1994), sugere-se que o utilitarismo, as vezes necessário, caminhe com as novas possibilidades com a Literatura, entendendo que o acesso ao livro pode possibilitar para outras aprendizagens. Assim, o livro pode ser visto com uma possibilidade de interação lúdica, ampliando a visão de mundo e construindo novas histórias.
- O uso não utilitarista da leitura não é o mesmo que não ter uma direção sistematizada. O contato com a Literatura precisa acontecer, na escola, de forma organizada e planejada.
- Esse pesquisador propõe que o professor deve sempre ter a consciência de que “o processo de animação e que seu propósito central deve ser o de levar a criança a ler, não para que realize esta ou aquela atividade, mas ler para si mesma, ler para atender a uma necessidade interna, ler para satisfazer um gosto pessoal, aspectos que cabe ao mediador criar as condições para que aflorem plenamente.” (CECCANTINI, 2009, p.218). E para isso há diferentes ferramentas disponíveis para o professor se formar e construir sua prática.
-Para que haja uma formação efetiva do leitor literário não é suficiente somente o esforço do professor mediador, é necessário haver um esforço conjunto de diferentes âmbitos sociais como família, estado e instituições que lidam diretamente com o livro. E o trabalho deve acontecer constantemente.
- A continuidade do acesso a leitura e da formação do leitor literário tem sido interrompida na transição entre a infância para a adolescência e da adolescência para a fase adulta. Quanto mais velho fica o leitor, menos ele tem lido no Brasil. Há, nesse sentido, falta de investimento em uma formação perene e, não somente na formação inicial.

*Questões:
-O que ocorre com a formação do leitor literário na transição dos anos iniciais de formação para os subsequentes?
- O que se pode fazer para que os adolescentes e jovens permaneçam motivados nessa relação com a leitura literária?
-Qual é o papel do professor nesse contexto?

-A escola não avançou no trabalho com a juventude. O jovem somente lê no contexto escolar com a intenção de cumprir uma obrigação. No entanto, há pesquisas que dizem que o jovem ainda lê.
- Ceccantini aponta que deve haver um maior investimento posterior às séries iniciais para que a formação do leitor literário não se resuma a uma formação inicial. E, para isso são apontados diferentes pontos que atrapalham esse processo no trabalho com adolescentes e jovens, dentro do contexto escolar, como o menor tempo de investimento para a leitura, falta de politicas de incentivo, grande instrumentalização da leitura nesses anos de escolarização, dentre outros.
- Um ponto central para essa queda na leitura do jovem é o fato da escola ainda não conhecer plenamente o mundo juvenil. A não sabendo lidar com essas questões provoca reações agressivas, apatia e indisciplina nos jovens.
-O trabalho com a mediação da leitura para jovens, de acordo com Ceccantini, pode ter a essência do que é feito com as crianças, no entanto, deve-se buscar os interesses dos jovens e o foco deve ser em ações coletivas.
- E, nesse sentido, as práticas de leitura com os jovens pode estar baseada em atividades coletivas com livros dentro do contexto de fanfictions, blogs, protagonismo juvenil e trabalho voluntário.
- Outra possibilidade de contato com a leitura literária para o jovem leitor é fazer com que ele se torne mediador de leitura de sujeitos com idades inferiores a ele.

*Questão:
-Como fazer o jovem se tornar responsável por sua continuidade na formação literária?

-Há diferentes aspectos referentes à mediação de leitura que precisam ser observados nesse processo. De acordo com Ceccantini, a qualidade das obras literárias, o olhar para aspectos gráficos, editoriais, imagéticos e textuais são essenciais para garantir uma interação plena.
-Para finalizar, o que pode ser dito sobre as contribuições do texto de Ceccantini é que muito se caminhou em relação ao contato com a leitura e a formação literária nos anos inicias da escolarização, mas também há uma decadência em relação à continuidade da formação literária de adolescentes, jovens e adultos:
-“... a leitura no Brasil, configura um contexto bastante complexo e paradoxal, em que se sobrepõem aspectos díspares, ora sugerindo uma visão mais positiva do problema, ora apontando para uma dimensão mais sombria da questão, em que se divisam os muitos obstáculos ainda a se superar." (CECCANTINI, 2009, p.228)

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