segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A EXPERIÊNCIA DE UMA MÃE QUE SE TORNOU UMA CONTADORA DE HISTÓRIAS

A família, de acordo com Ceccantini (2009) pode assumir um papel significativo na formação do leitor literário criança a partir do incentivo e exemplos dos pais e do acesso  ao mundo literário.

A criança que tem contato, desde muito pequena, a livros e histórias literárias contadas por adultos, pode sofrer influencias positivas na sua formação literária e, também na sua trajetória como leitor literário, não só na infância, mas em toda a vida.
 Apresentamos a vocês a experiência de uma servidora pública que se transformou em uma contadora de histórias para diferentes gerações a partir do momento que se encantou com a contação de histórias para sua filha.
Solicitamos a ela que fizesse um breve relato sobre sua experiência como mediadora e contadora de histórias evidenciando o papel do contador de histórias como incentivador do acesso da criança à leitura e à cultura, expondo sua opinião sobre a formação do leitor literário e apontando como o contador de histórias pode mediar a leitura.
O relato dela é uma verdadeira contação de histórias, de forma suave, ela compartilhou parte de sua experiência de vida.
 “Minha experiência como contadora de histórias foi despertada com a maternidade. Sempre contei histórias para a Giovanna, desde o ventre e me lembro que depois que ela nasceu, com uns 2 meses mais ou menos, eu li o primeiro livro para ela : "O patinho feio"... lembro que custei a escolher qual livro contar, não queria nenhum de princesas ou de lobos maus para ser o primeiro... da coleção de infantis que comprei, sobrou o patinho feio e foi ele mesmo. Fiz vozes, comentários engraçados, ri e quase chorei (que novidade...kkkkk). Depois disso, virou mania comprar livros e ir à feiras e exposições. E a Giovanna pegou a mania : adora livros. Quando bebê tinha vários e sempre a deixei manuseá-los, colocar na boca, beijar e etc... Foi assim que ela aprendeu a amá-los...
Outro episódio marcante foi certa vez na escola dela. Eles tem um projeto que se chama "a hora do conto". Para os pequenos, do maternal até o 2o. período, os pais vão à escola para ajudar os filhos a contar uma história para os coleguinhas. Achei o projeto bacana e escolhi junto com a Gio a história dos "Sete cegos e o elefante". Como os meninos eram pequenininhos, achei que seria bacana se levasse um elefante para fazer a experiência da história com eles... rsrsrs . Fui numa casa de festas e aluguei um elefante, coloquei no porta-malas do meu Ka pequeninhinho, e levei para a escola... Tinha que ver que cena engraçada eu tirando um elefante do carro...Coloquei o elefante debaixo da árvore, pedi a professora para levar os meninos e a Gio e eu contamos a história para os coleguinhas. Depois eles brincaram de ser os sábios cegos e foi uma farra. Foi tão bacana a experiência toda que saí de lá empolgada, com vontade de fazer mais daquilo.... 
O tempo passou, quando ela estava um pouco mais independente e sobrou um tempinho eu descobri meio sem querer, navegando na web, um curso para contadores de histórias. Estava precisando de algo assim para dar uma motivada naquele momento pois sentia-me muito frustrada no trabalho, que não tem nada de magia... Fiz minha matrícula e fiz o curso na Aletria, 1 vez por semana, por 3 meses. O curso foi ótimo, ensinou técnicas de narração, técnicas vocais, histórias das histórias, foi bem completo. Depois, fiz um outro curso sobre o simbolismo das histórias, também na aletria. Muito bom o curso pois descobri que as histórias podem ser utilizadas de forma terapêutica, não só para encantar o público... Participei de outros mini cursos e palestras, e sempre que posso vou assistir espetáculos de contação (a gente aprende muito vendo outros contarem, e, normalmente, é de graça!!!rsrsrs)
Fui convidada e fiz algumas apresentações no rádio, em livrarias e em um shopping. Descobri que para contar histórias profissionalmente é preciso muita dedicação e comprovei, na prática, como viver de arte é quase impossível... rsrsrs
Preparar um espetáculo de contação envolve muita coisa: Escolher o tema da contação, preparar as histórias de acordo com o público, escolher o figurino, o cenário etc, e o cachê não pagava nem metade do que eu gastava... Aí percebi que a técnica estava superando o encantamento... E não tem que ser assim! Os cursos são bons sim, para dar segurança na hora de estar à frente do público. Por isso passei a recusar os convites e passei a contar histórias sem espetáculos...Mas tive que adiar as atividades de contação pois tenho outras metas no momento... mas não vou abandoná-las nunca pois é um vício tão bom que eu recomendo!
Mas para contar histórias o que a gente precisa mesmo é vontade, é amor, é felicidade, é acreditar no que está fazendo, aí você convence quem te escuta. E lembrar que quem tem que brilhar é a história, não quem está contando... Numa contação bem feita a história marca para sempre. E faz a gente querer ouvir mais, ler mais..
Todo mundo gosta de ouvir histórias. Todo mundo pode contar histórias. Então é só juntar isso e a magia acontece. Ainda mais quando o público são as crianças. Crianças amam livros. E amam histórias. Mas é importante respeitá-las e deixá-las sentir as histórias do jeito delas, deitadas no chão, sentadas, em pé... elas sentem com o corpo todo, é uma troca muito legal. É uma delícia ver aqueles olhinhos brilhando e os rostinhos vivendo as histórias. Foi com a contação que eu entendi porque eles gostam de ouvir a mesma história várias vezes: é porque elas sentem e vivem os pedacinhos da história de cada vez. Por isso é preciso respeitar as perguntas e interrupções dos pequenos: quando fazem isso é porque estão gostando, estão vivenciando! 
Outra coisa que acho bacana é contar uma história e pedir para eles recontarem... Sempre dão um show, imitam o contador e fazem suas intervenções. É lindo de ver. 
E mediar leitura é igual... Basta criar um clima, espalhando uns filós coloridos, colocar uns elementos diferentes do ambiente e com alguma ligação com a história e pronto. A criatividade vem. E não tem que se preocupar muito em fazer vozes, nem caras e bocas. Nem todo mundo fica a vontade com isso. Tem que deixar fluir. 
E quando a história é sentida além de um conjunto de palavras, ela desperta o prazer de ler, a sede por cultura. 
E aí o mundo se transforma!”

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