A família, de acordo com Ceccantini
(2009) pode assumir um papel significativo na formação do leitor literário
criança a partir do incentivo e exemplos dos pais e do acesso ao mundo literário.
A criança que tem
contato, desde muito pequena, a livros e histórias literárias contadas por
adultos, pode sofrer influencias positivas na sua formação literária e, também
na sua trajetória como leitor literário, não só na infância, mas em toda a vida.
Solicitamos a ela que
fizesse um breve relato sobre sua experiência como mediadora e contadora de
histórias evidenciando o papel do contador de histórias como incentivador do
acesso da criança à leitura e à cultura, expondo sua opinião sobre a formação
do leitor literário e apontando como o contador de histórias pode mediar a
leitura.
O relato dela é uma
verdadeira contação de histórias, de forma suave, ela compartilhou parte de sua
experiência de vida.
Outro episódio
marcante foi certa vez na escola dela. Eles tem um projeto que se chama "a
hora do conto". Para os pequenos, do maternal até o 2o. período, os pais
vão à escola para ajudar os filhos a contar uma história para os coleguinhas.
Achei o projeto bacana e escolhi junto com a Gio a história dos "Sete
cegos e o elefante". Como os meninos eram pequenininhos, achei que seria
bacana se levasse um elefante para fazer a experiência da história com eles...
rsrsrs . Fui numa casa de festas e aluguei um elefante, coloquei no porta-malas
do meu Ka pequeninhinho, e levei para a escola... Tinha que ver que cena
engraçada eu tirando um elefante do carro...Coloquei o elefante debaixo da
árvore, pedi a professora para levar os meninos e a Gio e eu contamos a história
para os coleguinhas. Depois eles brincaram de ser os sábios cegos e foi uma
farra. Foi tão bacana a experiência toda que saí de lá empolgada, com vontade
de fazer mais daquilo....
O tempo passou, quando ela estava um pouco mais independente e sobrou um
tempinho eu descobri meio sem querer, navegando na web, um curso para
contadores de histórias. Estava precisando de algo assim para dar uma motivada
naquele momento pois sentia-me muito frustrada no trabalho, que não tem nada de
magia... Fiz minha matrícula e fiz o curso na Aletria, 1 vez por semana, por 3
meses. O curso foi ótimo, ensinou técnicas de narração, técnicas vocais,
histórias das histórias, foi bem completo. Depois, fiz um outro curso sobre o
simbolismo das histórias, também na aletria. Muito bom o curso pois descobri
que as histórias podem ser utilizadas de forma terapêutica, não só para
encantar o público... Participei de outros mini cursos e palestras, e sempre
que posso vou assistir espetáculos de contação (a gente aprende muito vendo outros
contarem, e, normalmente, é de graça!!!rsrsrs)
Fui convidada e fiz algumas apresentações no rádio, em livrarias e em um
shopping. Descobri que para contar histórias profissionalmente é preciso muita
dedicação e comprovei, na prática, como viver de arte é quase impossível...
rsrsrs
Preparar um
espetáculo de contação envolve muita coisa: Escolher o tema da contação,
preparar as histórias de acordo com o público, escolher o figurino, o cenário
etc, e o cachê não pagava nem metade do que eu gastava... Aí percebi que a
técnica estava superando o encantamento... E não tem que ser assim! Os cursos
são bons sim, para dar segurança na hora de estar à frente do público. Por isso
passei a recusar os convites e passei a contar histórias sem espetáculos...Mas
tive que adiar as atividades de contação pois tenho outras metas no momento...
mas não vou abandoná-las nunca pois é um vício tão bom que eu recomendo!
Mas para contar histórias o que a gente precisa mesmo é vontade, é amor,
é felicidade, é acreditar no que está fazendo, aí você convence quem te escuta.
E lembrar que quem tem que brilhar é a história, não quem está contando... Numa
contação bem feita a história marca para sempre. E faz a gente querer ouvir
mais, ler mais..
Todo mundo gosta de ouvir histórias. Todo mundo pode contar histórias.
Então é só juntar isso e a magia acontece. Ainda mais quando o público são as
crianças. Crianças amam livros. E amam histórias. Mas é importante respeitá-las
e deixá-las sentir as histórias do jeito delas, deitadas no chão, sentadas, em
pé... elas sentem com o corpo todo, é uma troca muito legal. É uma delícia ver
aqueles olhinhos brilhando e os rostinhos vivendo as histórias. Foi com a
contação que eu entendi porque eles gostam de ouvir a mesma história várias
vezes: é porque elas sentem e vivem os pedacinhos da história de cada vez. Por
isso é preciso respeitar as perguntas e interrupções dos pequenos: quando fazem
isso é porque estão gostando, estão vivenciando!
Outra coisa que acho bacana é contar uma história e pedir para eles
recontarem... Sempre dão um show, imitam o contador e fazem suas intervenções.
É lindo de ver.
E mediar leitura é igual... Basta criar um clima, espalhando uns filós
coloridos, colocar uns elementos diferentes do ambiente e com alguma ligação com
a história e pronto. A criatividade vem. E não tem que se preocupar muito em
fazer vozes, nem caras e bocas. Nem todo mundo fica a vontade com isso. Tem que
deixar fluir.
E quando a história é sentida além de um conjunto de palavras, ela
desperta o prazer de ler, a sede por cultura.
E aí o mundo se transforma!”
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