terça-feira, 18 de novembro de 2014

COMO SURGIRAM “OS TAPETES CONTADORES DE HISTÓRIAS” ou "RECONTE-TAPIS"?



O conceito de Tapete Contador de Histórias surgiu em França, em 1987, criado pela Educadora Clotilde Fougeray-Hammam, com o nome de Raconte-Tapis.
Estando, na altura, na moda os tapetes para os quartos das crianças com imagens impressas de quintas ou cidades,Clotilde tem a ideia de criar um tapete tridimensional a partir de uma história narrada num livro da sua infância, para oferecer ao seu neto desta feita. O tapete obteve muito sucesso na comunidade de pessoas com quem se relacionava e com quem trabalhava. Decidiu, assim,começar a expandir a atividade. Com a parceria de seu filho, Eric Hammam, diretor de teatro, desenvolveu um projeto de incentivo à leitura, os Raconte-Tapis.

Clotilde defende que o Raconte-Tapis é lúdico mas não é um jogo, que se conta mas não é uma história e que pode ser utilizado por e para qualquer faixa etária, desde os mais pequenos nos jardins-de-infância até à terceira idade. O Raconte-Tapis é uma ponte entre acriança e o livro; transporta consigo um conceito pedagógico. A metodologia da utilização dos Raconte-Tapis é interativa entre todos os participantes, adultos e crianças, pois coloca todosao mesmo nível, dado que o tapete fica no chão. O mediador de leitura e as crianças devem ficar todas sentadas à sua volta e partilhar da história apresentada. 
Os Tapetes são criados em função de um determinado livro e este deve estar sempre presente. No início da história, o mediador irá apresentar às crianças o livro e recorrerá a ele durante a história as vezes que considerar pertinente para que as crianças estabeleçam a relação entre a história contada através do Tapete e o livro. Os tapetes são construídos totalmente em tecido, sem integração de qualquer outro tipo de material, e recorrendo à diversidade de cores e de texturas. Os tecidos são escolhidos em conformidade com os elementos que se querem construir. O tecido é um material agradável ao tacto e qualquer criança estabelece uma boa relação “afetiva” com o mesmo. Desde cedo, e permanentemente, que o seu contato com os tecidos existe.
A transposição para o tapete passa inicialmente por uma análise cuidadosa do livro que se pretende apresentar, sendo que existem livros que dificilmente se poderão aplicar a esta metodologia (caso em que os cenários onde se passe a história se alteram permanentemente). A identificação de um cenário global onde decorre toda a história é fundamental, para que sirva de fundo ao tapete. A criação das personagens, objetos e restantes elementos que fazem parte da narrativa deverão apresentar-se o mais fiel possível às ilustrações apresentadas no livro, para que a criança possa estabelecer a ponte entre a história que ouve e o livro que vê. As personagens, normalmente, estão escondidas nas diversas partes do Tapete e apenas vão surgindo com o desenvolver da história, tal como se fosse a passagem para a página seguinte do livro.


Não sendo um teatro de marionetes, as personagens devem manter sempre o nível narrativo e não passar para uma fase dramática. A importância é a narrativa contada na história e o Livro que se quer dar a conhecer. Após esta fase em que o mediador de leitura apresenta a história, deverá deixar disponível o Tapete e o Livro ao grupo de crianças para que estes os explorem sozinhos. Esta fase dependerá do nível etário do grupo: poderão recontar a história ou inventar novas histórias com o cenário, personagens e elementos disponíveis.




segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A formação do leitor literário e a mediação do professor – Considerações a partir do livro “O professor e a literatura: para pequenos, médios e grandes”, de Lígia Cademartori, e da pesquisa “Retratos da leitura no brasil 3”*

A pesquisa Retratos da leitura no Brasil traz dados pouco satisfatórios para os estudiosos da formação do leitor literário. A última pesquisa publicada, em 2011, mostra que apesar das inúmeras políticas públicas, como a distribuição gratuita de livros a escolas e o abastecimento de bibliotecas, há insuficiência nas estatísticas relativas aos leitores no Brasil.
Atrelados a essas estatísticas, os resultados de avaliações nacionais e internacionais, a que são submetidos os alunos e os professores, não apresentam resultados positivos em relação ao domínio da leitura e da escrita, sendo incompatíveis com os investimentos governamentais feitos em materiais de leitura (LÁZARO, 2009, p. 10).
Assim, torna-se necessário o investimento na formação de mediadores de leitores, pressupondo a formação de todos os sujeitos que podem estar envolvidos, principalmente os professores, bem como atrelar essa formação aos mais variados espaços e públicos. Este sujeito deve ser focalizado pois segundo a pesquisa feita pelo Intituto Pró-livro, Retratos da leitura no Brasil, de 2011, o professor possui a melhor atuação como mediador de leitura, atingindo 45% das respostas à questão pesquisada: “quem mais influenciou os leitores a ler”. Os professores são, nesta questão, seguidos pela mãe (ou responsável do sexo feminino), com 43% das respostas obtidas. Em uma comparação entre 2011 e 2007, a resposta “Professor ou professora” para esta pergunta, cresceu 12%. Na última edição havia chegado a 33% das respostas e a mãe (ou responsável do sexo feminino) era quem mais influenciava os leitores.
Outro ponto importante que a pesquisa aponta é que os professores são a figura que mais têm feito a atividade de ler com as crianças entre 5 e 12 anos (16,8% da amostra) que costumam ler acompanhadas seguidos novamente pela mãe  (o adulto lê para a criança). O Instituto Pró-livro avalia como positivo esse resultado defendendo que eles dão pistas de que, apesar de não haverem números milagrosos com relação à leitura no Brasil, os programas voltados ao incentivo desta, melhoria das bibliotecas, formação de professores mediadores, devem ser incrementados. Esses investimentos devem continuar fazendo parte da pauta das agendas e políticas públicas.
Nesse sentido, Lígia Cademartori, em seu livro “O professor e a literatura: para pequenos, médios e grandes” discute exatamente esta relação que o professor deve manter com a literatura. São apresentados e discutidos aspectos e elementos próprios da literatura infantil, seja clássica ou contemporânea; da literatura juvenil e reflexões acerca da sua definição; da formação de leitores no espaço escolar; das diferentes modalidades de poesia endereçadas aos estudantes, e da influência das relações de consumo na literatura e na formação dos leitores, hoje, bombardeados pelos best-sellers.
Ao olhar o livro “O Professor e a Literatura: para pequenos, médios e grandes” de Lígia Cademartori chamou-nos a atenção a fala da professora Magda Soares na contracapa “Felizmente, este livro é a obra sobre literatura na escola, sobre as relações do professor com a literatura, sobre as relações entre professor e alunos com a mediação da literatura”. Essa fala nos fez questionar: como alunos e professores veem a literatura? Quais relações o professor estabelece com a literatura? E os alunos? De que forma alunos e professores podem ser mediadores da literatura?
Sem a figura do mediador, os livros constituem patrimônio cultural morto e não apropriado. Dessa forma faz-se necessária a atuação de um leitor mais experiente que possa mediar a relação entre o possível leitor e o objeto cultural - livro. É preciso que se construa sobre o livro um valor de uso, um valor social, para além do uso meramente escolar, e que haja uma relação de necessidade de leitura.
            A mediação nas práticas de incentivo à leitura deve ser entendida não como método assistencial e pedagógico de ação, mas como um processo de produção de leitores, de transformação de cidadãos em cidadãos leitores. Desse ponto de vista, em vez de o mediador operar como um intermediário ou como um “tradutor” junto a pessoas que têm dificuldades de leitura, ele atua como um formador de leitores. A mediação de leitura, tal qual a entendemos, é um processo no qual a relação entre dois ou mais sujeitos – agentes de leitura e leitores – é mediada por um livro ou por um conteúdo escrito determinado que os faz dialogar entre si.
            De maneira didática, a autora nos apresenta essas ideias por meio da obra Sr. Pip, de 2006, do escritor Lloyd Jones, que promove “uma reflexão sobre a relação do leitor, em sentido amplo, e do professor (não institucionalizado), em sentido restrito, com a literatura. A história ilustra bem certa natureza pertubadora da literatura que, mesmo em uma ilha sitiada, precisa encontrar condições para existir. Uma delas, o escapismo, pode ser uma primeira etapa na experiência de leitura, apesar do sentido pejorativo atribuído ao termo. Ele pode estar na base da formação dos mais requintados leitores, assim como de escritores de grande talento. Uma outra etapa da relação com a literatura é descobrir a própria voz, a subjetividade  que preenche os vazios da obra. Entretanto, uma outra constatação a que a obra nos leva, segundo Cademartori é que nem todo mundo pode ser leitor. Para aqueles que são, segundo Piglia (citado por Cademartori, p. 24) “a leitura constrói um espaço entre o imaginário e o real.(...) Não existe nada simultaneamente mais real e mais ilusório do que o ato de ler”.
A mediação é, pois, uma relação de troca, de aprendizado recíproco, e de ampliação de uma percepção individual a partir de sua composição com outras formas de percepções em relação ao mesmo objeto, uma ampliação que permite que a apropriação individual desse objeto – um objeto de conhecimento – só possa dar-se coletivamente. Isto significa que apropriar-se de um conhecimento é o mesmo que se tornar capaz de compartilhá-lo.
            O professor enquanto mediador “ensina cada um a perceber que tem uma voz própria, uma singularidade, e que esse é um dom especial,           que ninguém poderá jamais tirar” (CADEMARTORI, 2012, P. 22). A experiência que cada ser humano vivencia com o livro é única, mesmo contando com a colaboração de um mediador, pois, segundo a autora, as vivências do sujeito interferem no texto ou na história de tal modo que podem modificar a experiência, o fato de ter gostado ou não do livro. Assim são nossos alunos que ficam extasiados, atentos e com olhares diversos (de espanto, alegria, tristeza) quando contamos uma história. Dizem: “nossa, que legal!”, “conta de novo professora!”. Chega o final da aula ou passam-se alguns dias e eles falam “lê aquela história novamente professora.” Entretanto, após a leitura de um livro para os alunos sempre resta uma pergunta: Será que existe uma forma mais encantadora de se ler um livro? Como seria?
Quando se trata de leitura, de promovê-la na escola ou em outro lugar, ou quando se discute a experiência do professor como leitor, é importante ter presentes os diversos estágios por que passa um leitor, porque a formação não se dá uma só vez, nem de modo único ou mecânico. Tornar-se leitor é processo que ocorre ao longo do tempo e de distintas maneiras para diferentes pessoas. É preciso saber que não necessariamente um estágio leva a outro. (CADEMARTORI, 2012, P. 23 E 24)
A autora menciona diversos estágios por quais passa um leitor. Que estágios seriam esses?  Será que o professor passou por esses estágios? Até por que segundo Cademartori (2012), o Brasil ainda não é um país leitor, por questões social, econômica, política, histórica e cultural e muitos professores não tiveram as condições necessárias para se desenvolverem devidamente como leitores.
            A autora afirma que o espaço da leitura é aquele da cultura formada pelo conjunto de textos de diversa natureza que atuam como mediação na nossa interação com o real. Cademartori (2012, p. 90 e 91) esclarece que
a capacitação dos alunos à leitura é um dos objetivos do ensino fundamental, habilidade que deve ser aprimorada no ensino médio. Iniciativas, incentivos e programas de leitura que propiciam tal capacitação são de importância vital na educação. Esforços nesse sentido são crescentes no país, impulsionados por razões culturais, sociais e políticas. Mas a formação de leitores literários extravasa o âmbito do trabalho de massa. Envolve particularidades de uma sintonia mais fina, além da disposição para aventuras subjetivas, que não existe em qualquer professor nem em qualquer aluno.
Vale questionar: como a escola do ensino fundamental e médio está capacitando os alunos para a leitura? Quais estratégias ela está utilizando para formar leitores literários?
Escola, pais, políticas públicas, todos os envolvidos nesse processo de formação de leitores não podem deixar de lado uma questão que tem permeado as relações às quais nossos mais novos leitores estão submetidos e para a qual Cademartori nos chama a atenção: a do consumo. A literatura também é hoje marcada pelas relações capitalistas e os exemplos mais claros são os best-sellers e as obras que se espelham neles buscando o mesmo mercado (mas que nem sempre o alcançam). Todos esses ocupam as prateleiras centrais das principais livrarias dos shoppings centers e impõem, muitas vezes, uma lógica consumista dentro das relações interpessoais em que há de se reproduzir o que é aceito pela sociedade, inclusive o que se lê. Se todos estão lendo “A culpa é das estrelas” e conversam sobre ele na hora do recreio, no whatsApp, etc. é necessário, como sobrevivência social, que eu também o leia, mesmo que para isso sacrifique o tempo que iria destinar a alguma outra leitura.
Para concluir Cademartori (2012, p.125) esclarece, “talvez a tarefa fundamental do professor, hoje, seja ensinar a seus alunos como distinguir, entre as múltiplas vozes das mensagens impressas e eletrônicas de todo tipo que o cercam, quais de fato merecem atenção deles, por serem capazes de atender, de algum modo, suas necessidades de ser”.

CADEMARTORI, Ligia. O Professor e a Literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte, Editora PUC Minas, 2ª edição, 2012.


LÁZARO, André. Mediação de Leitura: Discussões e alternatvas para a formaçãode leitores (Prefácio). SANTOS, F.; NETO, J. C. M.; RÖSING, T. M. (Org.). 1ª ed. São Pualo: Global, 2009.

*Regilane e Luciana 

Livros de Pano - Rosane Moreira

O primeiro contato que tive com os livros de pano se deu no arraial de Acuriú, distrito de Itabirito, Minas Gerais, zona rural. A Preta, senhora que me apresentou o livro de pano, havia feito o livro para a neta, Luísa. Ela me disse que escolheu os elementos do cotidiano da neta e os colocou no livro, utilizando a técnica de aplicação e bordado. Achei tudo muito interessante, pois a Preta frequentou apenas as séries iniciais (antigo primário). Ela é parteira e trouxe várias crianças do arraial ao mundo. Depois de ter contato com o livro feito pela Preta, fiquei em êxtase e fui pesquisar para ver se encontrava outras referências. Acabei por encontrar o trabalho de uma pedagoga chamada Clotilde Hammam. Ela, buscando uma forma de contar histórias para o neto, acabou confeccionando um tapete de tecido cujo cenário ilustrava um livro infantil. O filho da Clotilde Hammam, o tarok Hamman, transformou a experiência da mãe numa pedagogia de contação de história. Começou a confeccionar tapetes de tecido e utilizá-los para contar histórias. A experiência se expandiu pela França e hoje é comum encontrar nas escolas professores e professoras que utilizam essa técnica. O Tarak Hamman veio ao Brasil ministrar oficinas para o curso de Artes Cênicas da UFRJ. Alguns alunos dele que participaram da oficina resolveram montar um grupo de contação de histórias, os "Tapetes Contadores de Histórias". No início eles compravam os tapetes do Tarok Hamman, depois começaram a confeccionar os próprios tapetes. Hoje o grupo se apresenta por todo o Brasil e também pelo exterior. Uma das integrantes, a Rosana Reategue, nascida no Peru, reuniu a técnica da arpilleria (muito comum na região andina que consiste em fazer painéis de juta e aplicar também com tecido as cenas) coma técnica ensinada pelo Torak Hamman. Essa experiência resultou na confecção de livros de pano, que servem, também, como suporte para contação de história. A Rosana Reategue mora no Rio de Janeiro, onde atua no grupo tapetes Contadores de Histórias, e coordena um projeto no Peru, o Manos que Cuentam (mãos que contam). Os livros são confeccionados por mulheres muito empobrecidas, que vivem na periferia de Lima.

O universo infantil e as artes são as minhas maiores fontes de inspiração. As crianças são abertas às experiências, elas entram no universo que é proposto a elas. O caráter plurissignificativo das artes, essa abertura que ela oferece para o leitor trafegar á algo que me fascina muito.

Os livros de pano me parecem suportes muito bons para a leitura. Em relação ao toque por exemplo, que é também um sentido muito importante para leitura. As texturas, as cores, os aspectos visuais do livro despertam muito as crianças e adultos. É interessante que o livro de pano surpreende muito os adultos. Muitas pessoas, ao verem, costumam exclamar: “Oh! Um livro de pano, nunca vi”!
Acho que a maneira mais fácil de atingir a criança com o livro é permitir que ela toque o objeto, participe da leitura com todo o corpo, não somente com os olhos. A leitura é algo que exige a presença dos sentidos. A preocupação que temos com os livros de papel, se vão rasgar, por exemplo, inibe a relação da criança com o objeto. O livro de pano permite que a criança o carregue para onde for, pode, por exemplo, leva-lo para a cama.

Os livros de pano que trazem imagens, com é o caso do “Escre(ver)” podemser utilizados de várias formas. Quando confeccionei o livro, pensei nas crianças que não têm contato nenhum com a escrita, que têm pais e mães analfabetos, não têm cadernos nem lápis em casa. Uma criança que vive com uma família que tem uma vivência com a leitura, com a escrita, sabe desde muito cedo para que serve um lápis, porque as pessoas escrevem, ao passo que uma criança oriunda de uma família que não é leitora, nem escritora, precisa ser introduzida nesse universo. Algumas perguntas podem ser feitas às crianças como: O que é esse objeto? Livros são feitos somente com papel? Quais outros materiais podem ser usados para fazer um livro? Para que servem os livros? O que esse menino está fazendo? O que ele está segurando? Há alguém do lado dele? Quem pode ser? A tia, a mãe, a professora?
  












Rosane Moreira - Contatos: Celular: (31) 9882-3888/ E-mail: poesilhas@gmail.com

Depoimentos

Perguntamos para algumas pessoas:
Você lembra do primeiro livro que leu? Se não, qual o primeiro livro vem a sua cabeça quando pensa na sua infância ou adolescência? Como você teve acesso a ele? Pelos seus pais, professor(a), algum amigo...
Algumas pessoas nos contaram um pouquinho das suas memórias literárias...
Deixe seu depoimento também!!!

Daniela Pena - Professora de Química

"Quando era criança sempre gostei de ler, mas até os 12 anos não lia tanto porque não tinha tantos livros que chamavam minha atenção em casa. Os livros que marcaram minha juventude e que ajudaram realmente a tornar um hábito foi Harry Potter e Senhor dos Anéis. Gostei tanto da experiência de ler estes livros que se tornou uma das coisas prediletas da época. Posso dizer que faço parte da “Geração Harry Potter” que cresceu acompanhando o lançamento dos livros.
Como descobri que a leitura era muito prazerosa comecei a procurar mais livros para ler e principalmente frequentar a biblioteca, com isso meu gosto passou de apenas fantasia para outros tipos de estórias. Hoje ler é um dos meus passatempos favoritos e percebo que o hábito da leitura amplia meus conhecimentos, visão de mundo, minha escrita e claro é um excelente divertimento."

Felipe Buccini - Analista Contábil

"O episodio que marcou o inicio do amor pelos livros e histórias foi quando vi, na ocasião de seu lançamento no cinema, ao filme "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel". Fiquei tão fascinado pela história e a construção daquele mundo que juntei todas as minhas economias e dividi o valor do livro com minha irmã. Desde então meu fascínio pela literatura tem crescido à medido que leio mais livros e mergulho cada vez mais nos mundos fantásticos. Fiz até um blog onde troco experiências com outros leitores sobre as minhas obras preferidas e as adaptações para o cinema."

Rosane - Revisora de textos e artesã/autora de livros

"Normalmente somos despertados pela leitura por professores de língua materna e literatura. No meu caso, meu encantamento pelos livros se acentuou especialmente por causa de um professor de química. Eu estava cursando o 1º ano do ensino médio. Ele me emprestou um livro chamado “Por quem os sinos dobram” do Ernest Hemingway.
Um namoradinho, que tive na adolescência, também me emprestou um livro que me marcou muito: “Os miseráveis”, de Victor Hugo.
Um amigo meu, quando eu fiz 15 anos, me deu um livro que mexeu profundamente comigo “Carta ao meu pai” de Frank Kafka.
Mas a experiência mais fascinante que tive se deu quando eu cursava a faculdade de Letras. Ao ler o conto “A Cartomante”, de machado de Assis, tive uma forte taquicardia. Depois disso, nunca mais larguei os livros dele."


Regilane - Pedagoga

"Em se tratando de leitura e em especial de livros de literatura, na escola em que estudei o ensino fundamental, localizada no interior (na roça) a biblioteca era precária, com poucos livros, grande parte velhos e rasgados e não havia incentivo por parte dos professores em relação a leitura. Raríssimas vezes visitei a biblioteca quando cursei o fundamental, até por que ela geralmente estava fechada ou servia para alguma turma estudar. Acredito que naquela época, nos anos 90 os professores não tinham formação relacionada a mediação de leitura ou contação de história, algo do tipo. Não me lembro de nenhum professor lendo um livro de literatura.
Quando ingressei no ensino médio no ano 2000, numa escola na cidade, lembro da professora de língua portuguesa que solicitava algumas leituras de escritores clássicos como Machado de Assis, José de Alencar, Manoel Bandeira, Guimarães Rosa e outros, sempre para fazer alguma atividade avaliativa. Reconheço que até então não tinha nenhum gosto pela leitura de livros de literatura, pois remetia sempre a avaliação. Posteriormente, no cursinho tive uma professora de literatura que trabalhava de forma dinâmica, incentivando o gosto pela leitura e ajudando nos a interpretar as obras literárias que possivelmente seriam cobradas no vestibular. Comecei a gostar um pouquinho de literatura.
Já os meus pais não incentivavam a leitura de obras literárias pelo fato de não terem tido acesso a ela, conheciam pouco, porém minha mãe sempre incentivava a leitura de qualquer tipo, o que eu tivesse acesso na época (jornais velhos, dicionário, livros didáticos, revistas e outros)."

Cecília - Revisora de textos

"Livro – “Descanse em paz, meu amor” – Esse foi o primeiro livro que me marcou. Não me lembro em que série a professora passou, mas foi lido para a escola, no Ensino Fundamental II. Lembro-me que me marcou porque era uma história de amor e suspense entre jovens. Era uma história interessante. Mas o livro que me despertou totalmente para o universo da literatura e das várias existências foi “Um sopro de vida - Pulsações”, de Clarice Lispector. Engraçado que tive que ler por causa do vestibular seriado da Unimontes, a princípio era uma obrigação. Todavia, a partir dele eu quis ler todos os outros da autora e tudo o que tinha a ver com ela e sua história. Então, eu cheguei no Hermann Hesse, na Nélida Piñon, na Virgínia Woolf... Foi decisivo inclusive para que eu escolhesse fazer Letras."




Retratos da leitura no Brasil - Alguns dados






Arpilleras da Resistência






Projeto contemplado pelo edital “Marcas da Memória” Patrocinado pela  Comissão  da Anistia MJ
Arpillera é uma técnica têxtil chilena que possui raízes numa antiga tradição popular iniciada por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, localizada no litoral central chileno.

A conhecida folclorista Violeta Parra ajudou a difundir este trabalho artesanal, e expôs uma série de arpilleras no Pavilhão Marsan do Museu de Artes Decorativas do Louvre, em 1964, tendo achado nesta técnica “uma linguagem para poder transmitir histórias, sonhos e conceitos”.   A própria Violeta diz em entrevista “as arpilleras são como cancões que se pintam”.  A diferencia principal entre aquelas arpilleras e as que compõem esta mostra é que estas foram confeccionadas com retalhos e sobras de pano; – o bordado é só um accessório ao trabalho têxtil. Assim como as arpilleras originais que as inspiraram, estas foram montadas em suporte de aniagem, pano rústico proveniente de sacos de farinha ou batatas, geralmente fabricados em cânhamo ou linho grosso. Toda a costura é feita à mão, utilizando agulhas e fios.  Às vezes sao adicionados fios de la à mão e com crochê, para realçar os contornos das figuras. Normalmente o tamanho destas obras era determinado pela dimensão do saco. Uma vez consumido o seu conteúdo, ele rea lavado e cortado em seis partes, possibilitando assim que o mesmo número de mulheres bordasse a sua própria história, a de sua família e de sua comunidade. A tela de fundo se chama arpillera, dando o nome a essa expressão artística popular.
Como forma de registrar a vida cotidiana das comunidades e de afirmar sua identidade, as oficinas de arpilleras nao somente representaram a expressao dessa realidade como também se transformaram em fonte de sobrevivência em tempos adversos. Muitas arpilleras fazem referencia aos valores consolidados da comunidade e aos problemas políticos e sociais que enfrenta. Tornaram-se uma forma de comunicar ao mundo exterior, no país e fora dele, o que estava acontecendo, e ao mesmo tempo, uma forma de atividade cooperativa e fonte de renda.
Graças as arpilleras muitas mulheres chilenas puderam denunciar e enfrentar a ditadura desde fins de 1973. As arpilleras mostravam o que realmente estava acontecendo nas suas vidas, constituindo expressões de tenacidade e da força com que elas levavam adiante a luta pela verdade e pela justiça.

Roberta Bacic, pesquisadora e curadora de expossiçoes de  Arpilleras

(texto extraído do catálogo da exposiçao “Arpilleras da Resistencia Política Chilena”. Memorial da Resistência de Sao Paulo)

Os tapetes contadores de histórias

Grupo de atores e contadores de histórias que desde 1998 produz e realiza espetáculos, sessões de histórias, oficinas, exposições interativas e projetos culturais que envolvem oralidade, artes visuais e teatro.


Com coordenação de Cadu Cinelli e Warley Goulart, criam e utilizam de objetos (tapetes, painéis, malas, aventais, roupas, caixas e livros de pano) como cenários de contos autorais e populares de origens diversas, a fim de despertar o imaginário de crianças, jovens e adultos para as artes e a leitura.

Formados em Artes Cênicas pela UniRio, nossa pesquisa tem como base os contos de tradição oral e da literatura em geral, e as intersecções entre oralidade e artes visuais.
Para o grupo, contar e escutar histórias proporciona uma qualidade de contato entre as pessoas que permite um profundo e prazeroso intercâmbio de experiências: atua tanto na construção de valores como contribui para a formação de uma percepção crítica e sensível da vida, da arte e da sociedade.

Atualmente têm um acervo de 54 objetos que correspondem a um repertório que vai desde contos populares de origens diversas (Ásia, África, América do Sul e Europa) a escritores como Ana Maria Machado, Carlos Drummond de Andrade, Jutta Bauer, Manoel de Barros, Marina Colasanti, Peter Bichsel e Ricardo Azevedo. Com este material, criamos alguns espetáculos e sessões de histórias direcionadas especialmente para crianças (Passarinho à toa, O rei que ficou cego, Bicho do Mato, Cabe na Mala?, Palavras Andantes, Retalhos de Drummond,) ou exclusivamente para jovens e adultos (3Horizontes, O mundo de fora pertence ao mundo de dentro, Divinas y Humanas).

Com reconhecimento de público e crítica, já se apresentaram, produziram eventos, ministrarams oficinas e participaram de festivais, seminários, simpósios e encontros no Brasil, Argentina, Chile, Espanha, México, Nicarágua, Peru e Portugal. No Brasil, já visitaram inúmeras cidades e realizaram atividades em importantes centros culturais (CCBB, Caixa Cultural, Itaú Cultural, SESCs, Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Centro Cultural Dragão do Mar, Banco do Nordeste, Instituto Ricardo Brennand, Teatro Jorge Amado, dentre outros).


Síntese e reflexões do texto: Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. João Luís Ceccantini

CECCANTINI, João Luís. Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. In: SANT´ANNA, Affonso Romano de. Mediação de Leitura – Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.


Ideias centrais e questões
- O século XXI é marcado pelo paradoxo de ser o século em que mais se lê, e, também ser o século em que se menos lê.
-No Brasil, onde, há menos de um século, o nível de analfabetismo chegava a 80%, o mercado editorial cresceu significativamente, evidenciado pelo grande número de vendas de best-sellers e pelo enriquecimento de escritores.
- A leitura em alta no Brasil é expressa pelo grande investimento no mercado do livro: Expansão dos postos de venda, rápida tradução de livros estrangeiros, criação de novas editoras, juntamente com inúmeras novas obras, projetos de compras e distribuição de livros, realização de eventos como as bienais dentre outros.
- No entanto, ainda há um número reduzido de brasileiros que dominam a leitura de forma integral, ou seja, construíram habilidades de compreender e dialogar com os textos lidos.
-A diminuição da leitura, registrada por inúmeras pesquisas, é percebida no contexto da leitura literária, mais especificamente na relação com cânones ou obras clássicas.
-A leitura é visualizada em outros tipos de textos como os de natureza religiosa, autoajuda e entretenimento. As pessoas buscam nas leituras unir a ficção e as informações consideradas necessárias.
- O tipo de leitura do grupo alfabetizado de hoje é diferente daqueles que liam em outros tempos.
-A leitura ainda é algo inferior ao desejável, levando em consideração critérios qualitativos: suportes, escolha de obras, consistência da leitura realizada.
-A leitura hoje depende de variáveis como politica, econômica e educacional.

*Questões:
-Quais classes acessam mais a leitura no Brasil?
-Como garantir que as políticas de incentivo sejam verdadeiramente efetivadas no contexto das classes mais baixas?

- Ceccantini, propõe discutir dois tópicos ligados à mediação de leitura, que para ele é um aspecto essencial para a formação do leitor literário.
- O primeiro tópico refere-se aos avanços no campo da leitura, principalmente na mediação das séries iniciais que tem garantido a formação do leitor literário. O segundo aponta o que muito tem a se fazer para manter o leitor literário formado no contato com a leitura, já que após os anos iniciais há um afastamento relevante.
- Desde 1970, no Brasil, há uma corrente que reconhece a importância de haver um contato precoce da criança com livros e com a leitura. Isso porque “esse contato cria condições favoráveis para que a criança se transforme num jovem de comportamento de leitor assíduo e capaz de encontrar na leitura múltiplos sentidos para sua vida.” (CECCANTINI, 2009, p.210)
*Questão:
-Se a leitura é algo importante para a formação do sujeito cultural porque não há uma maior efetivação de um trabalho verdadeiramente sistematizado, nos diferentes níveis de ensino, que garanta a formação e a continuidade do acesso à leitura do leitor ao longo de toda a sua vida?

- Saindo da ideia naturalista de que a leitura é um caminho espontâneo, passa-se a reconhecer o importante papel de mediadores da família e da escola.
- As posturas adotadas pelas famílias em relação à leitura, refletem diretamente na formação e nas escolhas das crianças.
- De acordo com pesquisas, apontadas por Ceccantini, algumas práticas familiares podem estimular a relação longínqua e duradoura com a leitura: (p.211)
·         a leitura de historias aos filhos desde a primeira infância, impregnando de afetividade tanto o ato de ler quanto as obras lidas;
·         a ampla disponibilização de livros e materiais de leitura diversificados e de boa qualidade;
·         a leitura cotidiana de livros, jornais e revistas de modo a oferecer modelos positivos de leitura, que possam ser continuamente introjetados pelas crianças;
·         o debate frequente das leituras realizadas pelos integrantes da família;
·         a constante visita a bibliotecas, feiras do livro, bate-papos com escritores e ilustradores, entre outras possibilidades.

*Questão:
-Existe uma grande diferença entre famílias de classes médias e classes baixas. Como é possível haver o incentivo à leitura dentro do contexto de famílias com acesso restrito a esses bens culturais?

-A realidade brasileira apresenta grandes impedimentos para ações como essas propostas, já que a maior parte da população não tem acesso a esses bens culturais.
-A escola tem se transformado como a principal mediadora de leitura para as crianças brasileiras. (pesquisas)
- (...) o ensino brasileiro amadureceu muito no sentido de promover atitudes afirmativas e comportamentos mais ativos em relação à leitura, talvez como resultado de anos a fio de debate do tema nas mais diferentes esferas. (CECCANTINI, 2009, p.212)
- A “hora do conto” nas escolas é uma prática rotineira e faz parte tanto do espaço da biblioteca, quanto da sala de aula. É visto como uma forma de propagar um gesto milenar e proporcionar a construção de sentidos.
-Espera-se que a escola de hoje proporcione um espaço ampliado para a leitura, já que não é possível ignorar “a contribuição significativa que um gesto simples como esse, desde que reiterado, tem para a formação de leitores” (CECCANTINI, 2009, p.214)
-A prática sistematizada e criativa da leitura, no contexto escolar, tem possibilitado o aumento de leitores no Brasil.
-As práticas de leitura na escola tem trazido consequências positivas como o acesso à bibliotecas, escolhas literárias e construção de gostos.
- Se a construção de um espaço para a leitura na escola, mesmo que pequeno, tem trazido resultados positivos, Ceccantini aponta para a necessidade de haver maiores investimentos nessas ações.
- A mediação da leitura na escola precisa ocupar um lugar central nas práticas.
- A mediação da leitura, de acordo com Camacho (2008) precisa contar com um mediador que se envolva no processo de ler, na escolha da obra, no entusiasmo do trabalho e no acesso a diferentes livros de qualidade.
- O papel do mediador é importante nesse processo, cabe a ele ser praticante e apaixonado pela leitura. E, nesse sentido ele deve construir hábitos de leitura, motivar o “ler por ler”, selecionar e facilitar diferentes leituras para distintas idades, orientar a leitura extraescolar.
- Há, no papel do professor, um conflito, já que ele precisa ser mediador, ser professor, e fazer uso e incentivar o ler por ler.
-Há, nesse contexto, um grande conflito entre o desejo de ler a literatura sem nenhuma intenção que não a de ler e as demandas dos saberes escolares. Fala-se então do utilitarismo da Literatura no contexto escolar.
- Fernandez Paz (1994), sugere-se que o utilitarismo, as vezes necessário, caminhe com as novas possibilidades com a Literatura, entendendo que o acesso ao livro pode possibilitar para outras aprendizagens. Assim, o livro pode ser visto com uma possibilidade de interação lúdica, ampliando a visão de mundo e construindo novas histórias.
- O uso não utilitarista da leitura não é o mesmo que não ter uma direção sistematizada. O contato com a Literatura precisa acontecer, na escola, de forma organizada e planejada.
- Esse pesquisador propõe que o professor deve sempre ter a consciência de que “o processo de animação e que seu propósito central deve ser o de levar a criança a ler, não para que realize esta ou aquela atividade, mas ler para si mesma, ler para atender a uma necessidade interna, ler para satisfazer um gosto pessoal, aspectos que cabe ao mediador criar as condições para que aflorem plenamente.” (CECCANTINI, 2009, p.218). E para isso há diferentes ferramentas disponíveis para o professor se formar e construir sua prática.
-Para que haja uma formação efetiva do leitor literário não é suficiente somente o esforço do professor mediador, é necessário haver um esforço conjunto de diferentes âmbitos sociais como família, estado e instituições que lidam diretamente com o livro. E o trabalho deve acontecer constantemente.
- A continuidade do acesso a leitura e da formação do leitor literário tem sido interrompida na transição entre a infância para a adolescência e da adolescência para a fase adulta. Quanto mais velho fica o leitor, menos ele tem lido no Brasil. Há, nesse sentido, falta de investimento em uma formação perene e, não somente na formação inicial.

*Questões:
-O que ocorre com a formação do leitor literário na transição dos anos iniciais de formação para os subsequentes?
- O que se pode fazer para que os adolescentes e jovens permaneçam motivados nessa relação com a leitura literária?
-Qual é o papel do professor nesse contexto?

-A escola não avançou no trabalho com a juventude. O jovem somente lê no contexto escolar com a intenção de cumprir uma obrigação. No entanto, há pesquisas que dizem que o jovem ainda lê.
- Ceccantini aponta que deve haver um maior investimento posterior às séries iniciais para que a formação do leitor literário não se resuma a uma formação inicial. E, para isso são apontados diferentes pontos que atrapalham esse processo no trabalho com adolescentes e jovens, dentro do contexto escolar, como o menor tempo de investimento para a leitura, falta de politicas de incentivo, grande instrumentalização da leitura nesses anos de escolarização, dentre outros.
- Um ponto central para essa queda na leitura do jovem é o fato da escola ainda não conhecer plenamente o mundo juvenil. A não sabendo lidar com essas questões provoca reações agressivas, apatia e indisciplina nos jovens.
-O trabalho com a mediação da leitura para jovens, de acordo com Ceccantini, pode ter a essência do que é feito com as crianças, no entanto, deve-se buscar os interesses dos jovens e o foco deve ser em ações coletivas.
- E, nesse sentido, as práticas de leitura com os jovens pode estar baseada em atividades coletivas com livros dentro do contexto de fanfictions, blogs, protagonismo juvenil e trabalho voluntário.
- Outra possibilidade de contato com a leitura literária para o jovem leitor é fazer com que ele se torne mediador de leitura de sujeitos com idades inferiores a ele.

*Questão:
-Como fazer o jovem se tornar responsável por sua continuidade na formação literária?

-Há diferentes aspectos referentes à mediação de leitura que precisam ser observados nesse processo. De acordo com Ceccantini, a qualidade das obras literárias, o olhar para aspectos gráficos, editoriais, imagéticos e textuais são essenciais para garantir uma interação plena.
-Para finalizar, o que pode ser dito sobre as contribuições do texto de Ceccantini é que muito se caminhou em relação ao contato com a leitura e a formação literária nos anos inicias da escolarização, mas também há uma decadência em relação à continuidade da formação literária de adolescentes, jovens e adultos:
-“... a leitura no Brasil, configura um contexto bastante complexo e paradoxal, em que se sobrepõem aspectos díspares, ora sugerindo uma visão mais positiva do problema, ora apontando para uma dimensão mais sombria da questão, em que se divisam os muitos obstáculos ainda a se superar." (CECCANTINI, 2009, p.228)

A BIBLIOTECA QUE GANHOU VIDA: O PAPEL DO AUXILIAR DE BIBLIOTECA EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE

Uma das componentes do grupo de trabalho “Literatura infantil: o papel da mediação” trabalha há quatro anos em uma escola municipal da periferia de Belo Horizonte. Essa escola fica localizada no Conjunto Paulo VI, região de risco, marcada pela pobreza, drogas e violência.
            Quando iniciou suas atividades como alfabetizadora nesse espaço escolar, buscou ajuda da coordenação para frequentar, com sua turma, a biblioteca da escola. No entanto, não foi possível realizar essa vontade de estender seu trabalho para fora da sala de aula, já que a biblioteca era um espaço que não tinha vida. Isso acontecia porque não era permitido que alunos e professores frequentassem esse espaço.
Para que os alunos pudessem ter acesso a alguns livros da Literatura Infantil ou  Revistinhas em Quadrinhos, a coordenação da escola tinha que entrar na Biblioteca quando a auxiliar não estivesse presente. Quando essa funcionária descobria, ela ia até a professora e cobrava todo o material retirado. A auxiliar de biblioteca tinha grande preocupação em manter e conservar o acervo, evitando que fosse destruído ou deteriorado.
Nesse tempo em que a biblioteca não funcionava a componente do grupo, juntamente com outras professoras, começou a construir pequenas bibliotecas na sala de aula para que os alunos pudessem levar livros para casa e realizar leituras, ora de forma coletiva, ora de forma individual.
A saída dessa funcionária marcou o renascimento deste espaço. Chegou na escola um auxiliar de biblioteca que fez desse espaço, um espaço em que todos os alunos e professores se sentissem “em casa”. A transformação foi significativa. As crianças passaram a frequentar a biblioteca, inclusive no horário de recreio, puderam também tocar nos livros e manuseá-los e, as professoras passaram a ter a oportunidade de levar as crianças semanalmente para contar histórias e escolher livros.
Além da abertura deste espaço, o auxiliar de biblioteca passou a mediar a leitura das crianças a partir da exposição dos livros, da contação de histórias e do trabalho conjunto com o grupo de professores.
Realizamos uma entrevista com esse profissional que considera a leitura e o acesso a ela um direito de todos, principalmente das crianças que estão em formação:

-Quais são as suas funções como auxiliar de biblioteca?
Organização do Acervo. Mediação e estímulo à leitura através de ações culturais e pedagógicas. (jogos, brincadeiras, contação de história). Suporte aos professores e coordenação.

- Qual é o papel que você considera ter em relação ao incentivo à leitura das crianças na escola?
Primeiramente o trato com as crianças. O acolhimento no espaço faz com que sejam bem vindos e queridos. Exposição estratégica dos livros promovendo uma boa visibilidade do acervo e, por fim, as ações culturais como jogos, brincadeiras, leitura e contração de histórias. Além disso, ações conjuntas com os professores.

- Por que você organiza o espaço da biblioteca, facilitando o acesso aos livros, quando as crianças a visitam?
Para promover a visibilidade do acervo e dinamizar o acesso ao livro.

-O que você sente quando conta histórias para as crianças?
Sinto que elas se transportam para outro tempo e lugar e eu também. É um momento de puro carinho e afeto.

- Como você escolhe os livros para ler para as crianças?
Não há uma regra. Livros que já conheço, livros que os meninos e meninas pedem ou escolhidos aleatoriamente.

-Qual a importância de mediar a leitura para os leitores em formação?
Estimular o gosto pela leitura e aprimorar a capacidade de buscar informação e apropriar-se do espaço com autonomia, solidariedade e respeito. Bons leitores são melhores alunos, indivíduos questionadores e curiosos.

- Para você qual é o papel da escola na formação de leitores literários?

A escola deve dar todo valor à leitura prazerosa. A criança tudo realiza através do brincar, portanto jogos, brincadeiras e ações culturais como teatro, musica, dança capoeira, artesanato, ecologia, entre outros, são veículos poderosos para estimular o intelecto e o prazer em aprender. Além disso, a escola deve promover um ambiente harmonioso e acolhedor onde os estudantes sintam-se queridos e respeitados em suas peculiaridades e histórias de vida. Com relação à leitura, acredito e apoio todas as turmas devem desenvolver projeto literário na biblioteca desenvolvido com o professor e com o suporte do auxiliar de biblioteca. As possibilidades são muitas: peça de teatro, confecção de livros, canto cora com música e poema, gincana literária e tantas outras. Sempre com o cuidado em realizar uma vivencia prazerosa, feliz e autônoma, em que valorizamos o processo e não o resultado final.