"Literatura e Infância são dois conceitos construídos, portanto, variam conforme a época, o lugar, os grupos sociais e seus valores. Ambos os conceitos se inter-relacionam já que a literatura infantil surge quando se passa a conceber a criança de forma diferenciada do adulto. Por sua vez, a literatura adjetivada como infantil é produzida no seio de uma cultura que define o que é ou não literatura e também o que é ou não adequado à infância. [...] considerar um texto como sendo ou não literário significa assumir um ponto de vista partilhado por um grupo que, por sua vez, tem suas concepções sustentadas ideologicamente. Para tecer nosso ponto de vista tomamos como pressuposto a literatura enquanto arte, independentemente da classificação - se infantil ou não [...]" (CORSINO, 2010, p. 3.)
Fonte: Literatura e Infância: reflexões e questões - Patrícia Corsino. III congresso Internacional Cotidiano - diálogos sobre diálogos, agosto de 2010.
Jogar nos ajudava a entender a vida, e também a arte nos ajuda a entender a vida. Mas não porque os contos “digam de outra maneira” certos assuntos ou expliquem com exemplos o que nos acontece, mas por causa das consequências de vivencia-los, aceitar a brincadeira. Pela forma “perfurante” que possui a ficção. De mostrar coisas escondidas. Observar o outro lado. Desvendar o que parece simples. Oferecer fendas por onde passar. Abonar os excessos. Explorar os territórios de fronteira, entrar nas conchas onde se escondem as pessoas, os vínculos, as ideias. (MONTES, 1999, p.28.)
Texto original: “Jugar nos ayudaba a entender la vida, y también el arte nos ayuda a entender la vida. Pero no porque los cuentos “digan de outra manera” ciertos asuntos o expliquen com ejemplos lo que nos pasa sino por las consecuencias que trae habitarlos, aceptar el juego. Por esa manera horadar que tiene la ficción. De levantar cosas tapadas. Mirar el otro lado. Fisurar lo que parece liso. Ofrecer grietas por donde colarse. Abonar las desmesuras. Explorar los territórios de frontera, entrar em los caracoles que esconden las personas, los vínculos, las ideas.” MONTES, Graciela. La frontera indômita – em torno a la construcción y defensa del espacio poético.
Fonte: La Frontera Indómita: en torno de la construcción y defensa del espacio poético - Graciela Montes. Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1999.
"A arte livra-nos ilusóriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos - vis porque são nossos e vis porque são vis.
O amor, o sono, as drogas e os intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir os mesmo efeitos que ela. Mas amor, sono e drogas têm cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o principio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.
O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.
Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso - o rastro da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo.
Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência." (PESSOA, 1999, p.264).
Fonte: Livro do Desassossego - Fernando Pessoa. Editora Cia das Letras, 1999.
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