segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

LIVRO: A VIDA COMO ELA É... DE NELSON RODRIGUES!!!




Veja o link do livro A vida como ela é...:

http://copyfight.me/Acervo/livros/RODRIGUES,%20Nelson%20%20-%20A%20Vida%20Como%20Ela%20E%CC%81...%20O%20Homem%20Fiel%20e%20Outros%20Contos.pdf

CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA A VIDA COMO ELA É... 

 A vida como ela é... se tornou justamente útil pela sua tristeza ininterrupta e vital. Uma pessoa que só tenha do mundo uma visão unilateral e rósea, e que ignore a face negra da vida, é uma pessoa mutilada”.
Nelson Rodrigues

            A vida como ela é... é uma obra composta por vários contos que Nelson Rodrigues escrevia todos os dias para o jornal Última Hora do Rio de Janeiro, no período de 1951 a 1961. Durante dez anos o autor criou quase duas mil histórias de amor, paixão e morte em torno do tema adultério. Estas histórias o tornaram conhecido na época e nos dias de hoje, entretanto de acordo com os conservadores suas peças de teatro tinham forte apelo sexual. Além disso, os contos pareciam não pertencer à literatura, talvez por serem publicados na mesma seção de crimes do jornal e, por isso, as histórias eram trágicas, recobertas com humor negro e romantismo. O preconceito impossibilitou que Nelson fosse reconhecido como um dos grandes contistas brasileiro.
O livro foi lançado, pela primeira vez, em 1961, pela editora J. Ozon, em dois volumes, intitulado Cem contos escolhidos, que foram selecionados pelo próprio Nelson Rodrigues. Em 1992, a Companhia das Letras lançou A vida como ela é... O homem fiel e outros contos, com seleção de Ruy Castro, reunindo quarenta e cinco histórias dentre as cem favoritas de Nelson Rodrigues (entre elas dez inéditas em livro, a famosa “A dama do lotação” e uma rara história em seis partes, “Paixão de morte”).  Em 2006, a editora Agir compilou os dois volumes da primeira edição de A vida como ela é..., com as cem histórias reunidas em um único volume. As histórias que ele escrevia eram reflexos dos casos que as pessoas lhe contavam, da sua observação dos subúrbios do Rio de Janeiro, das paixões que ouvira falar quando criança e, principalmente, de suas reflexões sobre o casamento, o amor e o desejo.
A cidade carioca na década de 50, período em que o autor escreve os contos, era repleta de mulheres que flertavam nos ônibus e bondes, poucas pessoas tinham carro, os vizinhos vigiavam-se uns aos outros e maridos e mulheres viviam na mesma casa com as primas, cunhadas e cunhados. Como não havia motéis, os encontros amorosos se davam em apartamentos emprestados por amigos e a vida sexual, para se realizar, exigia o vestido de noiva, a noite de núpcias e a lua-de-mel. Além disso, o casal típico, considerado perfeito, compunha-se do marido, da mulher e do/da amante. Pode-se considerar que a figura do amante era essencial aos casamentos, praticamente, um alicerce das relações matrimoniais.
Os personagens faziam parte da pequena burguesia que, em geral, moravam na Zona Norte, trabalhavam no Centro e, algumas vezes, freqüentavam a Zona Sul para corromper-se. Todos viviam em um estado constante de tensão sexual, como se esse fosse o eixo condutor de suas existências. As situações e os atos tendiam, na maior parte dos casos, ao radicalismo: se houvesse um adultério entre membros da família, por exemplo, todos acabavam participando; a mulher que se matava para provar a fidelidade ao amado; o marido que colaborava na prostituição da esposa; a mal amada que só passava a respeitar seu cônjuge após ser espancada na rua. Essas são algumas das cenas presentes na obra, que renderam ao dramaturgo a fama de pervertido.
A época retratada no livro é definida como Anos Dourados, por ser, imediatamente posterior à II Guerra Mundial e por trazer o progresso científico, tecnológico e cultural ao Brasil. Neste período, a capital federal era o Rio de Janeiro, servindo de referência para as demais cidades brasileiras e lugar comum das narrativas rodrigueanas, o que criou o imaginário social a seus leitores acerca da cidade e dos cariocas. A obra refletia o que estava acontecendo na época, pois mostrava uma sociedade com desgastes e com novos paradigmas para as relações familiares e amorosas, chocando e revelando as mazelas das famílias cariocas. Nelson mostrava nos contos, as marcas fortes desta sociedade: as paixões brutais, patológicas, as obsessões e as intimidades.
As histórias de A vida como ela é... logo se tornaram populares, por seu fácil acesso – o jornal, com linguagem objetiva, textos curtos e uso de expressões e frases populares faladas na época. Com isso, as pessoas liam nos bondes, a caminho de casa.  Rodrigues escreveu os contos, sob a forma de histórias curtas que causavam familiaridades e estranhezas, com personagens intensas, frases de impacto, linguagem simples e direta e vocábulo certo e preciso, o que fez os leitores mais sofisticados virarem a cara para essa narrativa.
Caracterizados pelo ambiente urbano das grandes cidades, os contos narram encontros repentinos no meio da rua, nos bares, cafés e sorveterias, nos ônibus e bondes, nos escritórios e repartições públicas. Outra característica importante é a utilização de uma linguagem cotidiana que, através de expressões como “batata”, “carambolas”, “não amola”, “ora pílulas”, criavam esse universo urbano das personagens. Da mesma forma, os diálogos curtos imitavam as falas cotidianas e as conversas entre amigos ou parentes. A vida como ela é... está conectada ao ambiente cotidiano, tem como pré-requisito visitar os assuntos mais prosaicos, a fim de estabelecer uma relação de cumplicidade com o leitor.
Os contos “O decote”, “Casal de três”, “A dama do lotação” e “Uma senhora honesta”, falam sobre casamentos e sua principal característica é a recorrência da infidelidade feminina ou o desejo das esposas por outros homens que não são seus maridos. A infidelidade feminina pertencia, neste período, à esfera da vergonha, do tabu e da polêmica.
O autor recorria a dois temas que palpitavam naquela época: a modernização e as mudanças de comportamentos decorrentes da vida urbana, que incitavam a uma desconfiança permanente sobre as mulheres. A fidelidade feminina estava diretamente relacionada à honra da família e, assim, à masculinidade do marido. Nesse sentido, a dúvida sobre a fidelidade ou não das esposas era uma preocupação constante. No período em que são escritos os contos, a infidelidade masculina não era condenada.
Além do sucesso no jornal e em livro, A vida como ela é... inspirou, na década de 1960, um programa de rádio narrado por Procópio Ferreira, assim como um disco e uma fotonovela. Em 1978, uma das histórias deu origem ao filme A Dama do Lotação, com Sônia Braga, sob a direção de Neville de Almeida. Na década de 1990, tornou-se um grande sucesso no teatro, em encenação dirigida por Luiz Arthur Nunes, até chegar ao horário nobre da TV Globo, dirigida por Daniel Filho e Denise Saraceni. Na metade dos anos 90, A vida como ela é... foi um quadro do programa Fantástico da Rede Globo, que exibia, semanalmente, uma história marcada pelos signos da luxúria, traição, dos absurdos da paixão e morte.

Um pouco de Nelson Rodrigues

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. A realidade da Zona Norte carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu como fonte de inspiração para Nelson construir personagens memoráveis e histórias carregadas de lirismo trágico. Trabalhou nos mais diversos jornais e revistas, assinando artigos e crônicas, como a popular e discutida coluna A vida como ela é…”. Morreu no Rio de Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos romances, contos e crônicas, deixou como legado dezessete peças que, vistas em conjunto, colocam-no entre os grandes nomes do teatro brasileiro e universal.

Regilane

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