RESENHA
LITERÁRIA
Livro:
Medeia: o amor louco - adaptação da peça teatral de Eurípides; adaptação Luiz
Galdino; ilustrações: Victor Tavares. São Paulo: FTD, 2005.
Em “Medeia: o amor
louco”, Luiz Galdino apresenta, em prosa narrativa, uma das tragédias mais
conhecidas de Eurípides. Galdino fez uma adaptação da história de Medeia, da
mitologia grega, apresentando o conteúdo da peça com uma linguagem mais
acessível, para um público juvenil. Integrante da coleção Teatro em
Prosa, "Medeia: o amor louco" tem 112 páginas. A ilustração é de
Victor Tavares. O livro possui dezesseis capítulos curtos, como se fossem as
cenas de uma peça teatral. Galdino termina os capítulos com uma instigante
interrogação a respeito do que vai acontecer no andamento do enredo. Assim,
instaura-se o prazer da leitura, prendendo o leitor nas situações da trama.
O
livro apresenta Medeia, uma personagem da mitologia grega, muito anterior à
tragédia. Esse mito é revisitado por Eurípides em 431a.C., considerado o autor que
humanizou o gênero por mostrar heróis em vidas comuns.
O mito de Medeia insere-se no ciclo narrativo dos Argonautas
que nos chegou até hoje, de forma mais completa, na obra "Argonáutica"
de Apolônio de Rodes (século III
a.C.) que se baseou em material disperso, a que tinha acesso na
famosa biblioteca de Alexandria.
Segundo esse mito, Jasão era rei de Iolco, porém, ao
ficar fora por um tempo, perdeu o trono para seu tio. Para que Jasão recuperasse
o trono, teria que tomar posse de uma pele de carneiro de ouro (tosão de ouro),
roubado de sua família pelos bárbaros do oriente. Assim, Jasão organizou uma
expedição chamada Argonáutica, que o levou à cidade de Cólquida. Lá conheceu
Medeia, filha de um rei, com quem se casou. Apaixonada, ela usa seus poderes de feiticeira para ajudar Jasão a vencer
os obstáculos impostos por seu pai. Devido a alguns acontecimentos
dramáticos, eles tiveram que fugir para Corinto.
A
adaptação de Galdino apresenta a história de Medeia em Corinto. A peça se
inicia com a velha ama de Medeia, lamentando-se pela traição de Jasão, que saiu
de casa para se casar com a filha do rei de Corinto, Creontes. Medeia sente-se
abandonada e humilhada, depois de tudo o que fez por seu marido. Ela largou sua
terra e sua família para seguir ao lado de um grande amor, que lhe trocou por
outra. Em seguida, Medeia recebe a visita de Creontes, que a expulsa de seu
reino, temendo uma vingança. Ela pede mais um dia, para que arrume suas coisas
e arranje outro lugar para morar. Cedendo ao pedido, Creontes vai embora, dando
o prazo de um dia para que Medeia deixe a cidade. Jasão oferece ajuda a Medeia,
para que ela consiga buscar exílio em outras terras. Ressentida e magoada com
Jasão, Medeia o expulsa de casa. Pouco depois, ela recebe a visita de Egeu, rei de Atenas, que
lhe pede ajuda para outra situação. Medeia promete ajudá-lo em troca de exílio.
Depois de saber os sofrimentos pelos quais Medeia está passando, Egeu concorda.
Medeia chama então Jasão para uma conversa e o convence que está arrependida
pelas coisas que disse. Pede para que seus filhos fiquem com o pai, morando no
castelo real. O que Jasão concorda feliz. Na sequência, Medeia manda seus
dois filhos entregarem presentes à princesa, filha de Creonte. Porém, os
presentes estavam envenenados, matando assim a princesa e o rei, que tentou
salvá-la. Quando descobre, Jasão corre para sua antiga casa à procura de seus filhos,
pois ele agora teme pela segurança deles. Ao
chegar, Jasão encontra seus filhos mortos, pelas mãos de sua própria mãe. Não
poderia ter havido vingança maior do que tirar do homem sua descendência. Medeia
mata, por ciúme, os próprios filhos, que também são filhos de Jasão, para
feri-lo de morte, “fazer sangrar o coração do homem amado do mesmo modo que o
seu sangra”.
A personagem Medeia tornou-se símbolo de
mulher traída, capaz de transformar amor em ódio para vingar-se do homem pelo
qual se apaixonou. Ela é a mulher que Eurípides usou para demonstrar até onde
vai o desejo de vingança do ser humano e quantas atitudes horrendas é capaz de
cometer em nome de uma traição.
A tragédia grega, Eurípides e a adaptação de
Luiz Galdino:
O teatro é uma das formas de expressão literária que a antiga Grécia
mais usou para demonstrar seus anseios e tormentos. Com o passar do tempo, essa
arte criou vida própria e invadiu Roma, Inglaterra e França.
Eurípides,
dramaturgo grego, escreveu a peça Medeia no ano de 431 antes de Cristo. Naquela
época, o teatro era responsável pela construção e educação do homem grego, em
particular do ateniense. As peças apresentavam discussões sobre os
acontecimentos cotidianos dos atenienses, baseando-se nos mitos. O papel da mulher
na cultura ateniense foi discutido de maneira bastante trágica nesta peça. O
que poderia acontecer, se uma mulher coberta de emoção e paixão, sentimentos
irracionais para os gregos, em oposição ao homem racional, decidisse resolver
suas mágoas com suas próprias ações? Eurípedes focaliza sua obra Medeia
em uma personagem feminina, pois na Grécia Antiga a mulher era vista como
fraca, seu papel era cuidar do lar e de seu marido. Medeia mostrou a angústia,
o sofrimento que pode morar dentro de um coração e as consequências desse
sofrimento. No caso da obra, não poderia haver maior vingança do que tirar do
homem a sua família.
Eurípedes é um dos trágicos
mais conhecidos e estudados. Ele humaniza a tragédia, sobretudo
quando questiona a virtude dos deuses. O realismo é outra característica de
Eurípides, na qual as paixões humanas fora de controle são o motor da tragédia.
Foi também o responsável por levar para a tragédia dramas individuais e
cotidianos, e por incorporar nos textos as mudanças que ocorriam no pensamento
do homem grego, que buscava
justificar suas ações e relativizar valores até então inquestionáveis. Ele retrata
os homens da maneira como agem, sem pretender mostrar como devem ser.
Luiz Galdino
é um escritor paulista que se destaca em obras para jovens e crianças. Dos
prêmios brasileiros mais importantes, ele conquistou o Jabuti, com Terra sem
males; e o João-de-Barro, com Sacici Siriri Sici. Foram quase trinta prêmios
com cerca de quarenta títulos publicados, inclusive no México e nos Estados
Unidos.
Para ler o livro: http://www.lendo.org/wp-content/uploads/2007/06/medeia.pdf
Algumas obras de arte que remetem à Medeia:
Medeia, de Paul Cézanne
Medea, de Henri Klagmann, Nancy, Musée des Beaux-Arts
Medeia é a
personagem Joana de Gota d'Água, peça teatral dos escritores brasileiros Chico Buarque e Paulo Pontes,
escrita em 1975, e publicada em livro homônimo em 1975. A ideia foi
originalmente derivada de um trabalho de Oduvaldo Viana Filho, que adaptara a
peça grega clássica de Eurípedes sobre o mito de Medeia, para a televisão, e à
memória do qual foi dedicada.
A tragédia
de Eurípedes foi transformada em filme duas vezes, pelo italiano Pier Paolo
Pasolini e pelo dinamarquês Lars Von Trier. (Publicado por Maria do Carmo Gallo Cruz)
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