quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


RESENHA LITERÁRIA
Livro: Medeia: o amor louco - adaptação da peça teatral de Eurípides; adaptação Luiz Galdino; ilustrações: Victor Tavares. São Paulo: FTD, 2005.

 

Em “Medeia: o amor louco”, Luiz Galdino apresenta, em prosa narrativa, uma das tragédias mais conhecidas de Eurípides. Galdino fez uma adaptação da história de Medeia, da mitologia grega, apresentando o conteúdo da peça com uma linguagem mais acessível, para um público juvenil. Integrante da coleção Teatro em Prosa, "Medeia: o amor louco" tem 112 páginas. A ilustração é de Victor Tavares. O livro possui dezesseis capítulos curtos, como se fossem as cenas de uma peça teatral. Galdino termina os capítulos com uma instigante interrogação a respeito do que vai acontecer no andamento do enredo. Assim, instaura-se o prazer da leitura, prendendo o leitor nas situações da trama.

 Sobre a história:

O livro apresenta Medeia, uma personagem da mitologia grega, muito anterior à tragédia. Esse mito é revisitado por Eurípides em 431a.C., considerado o autor que humanizou o gênero por mostrar heróis em vidas comuns.

O mito de Medeia insere-se no ciclo narrativo dos Argonautas que nos chegou até hoje, de forma mais completa, na obra "Argonáutica" de Apolônio de Rodes (século III a.C.) que se baseou em material disperso, a que tinha acesso na famosa biblioteca de Alexandria.

Segundo esse mito, Jasão era rei de Iolco, porém, ao ficar fora por um tempo, perdeu o trono para seu tio. Para que Jasão recuperasse o trono, teria que tomar posse de uma pele de carneiro de ouro (tosão de ouro), roubado de sua família pelos bárbaros do oriente. Assim, Jasão organizou uma expedição chamada Argonáutica, que o levou à cidade de Cólquida. Lá conheceu Medeia, filha de um rei, com quem se casou.  Apaixonada, ela usa seus poderes de feiticeira para ajudar Jasão a vencer os obstáculos impostos por seu pai. Devido a alguns acontecimentos dramáticos, eles tiveram que fugir para Corinto.

A adaptação de Galdino apresenta a história de Medeia em Corinto. A peça se inicia com a velha ama de Medeia, lamentando-se pela traição de Jasão, que saiu de casa para se casar com a filha do rei de Corinto, Creontes. Medeia sente-se abandonada e humilhada, depois de tudo o que fez por seu marido. Ela largou sua terra e sua família para seguir ao lado de um grande amor, que lhe trocou por outra. Em seguida, Medeia recebe a visita de Creontes, que a expulsa de seu reino, temendo uma vingança. Ela pede mais um dia, para que arrume suas coisas e arranje outro lugar para morar. Cedendo ao pedido, Creontes vai embora, dando o prazo de um dia para que Medeia deixe a cidade. Jasão oferece ajuda a Medeia, para que ela consiga buscar exílio em outras terras. Ressentida e magoada com Jasão, Medeia o expulsa de casa. Pouco depois, ela recebe a visita de Egeu, rei de Atenas, que lhe pede ajuda para outra situação. Medeia promete ajudá-lo em troca de exílio. Depois de saber os sofrimentos pelos quais Medeia está passando, Egeu concorda. Medeia chama então Jasão para uma conversa e o convence que está arrependida pelas coisas que disse. Pede para que seus filhos fiquem com o pai, morando no castelo real. O que Jasão concorda feliz. Na sequência, Medeia manda seus dois filhos entregarem presentes à princesa, filha de Creonte. Porém, os presentes estavam envenenados, matando assim a princesa e o rei, que tentou salvá-la. Quando descobre, Jasão corre para sua antiga casa à procura de seus filhos, pois ele agora teme pela segurança deles. Ao chegar, Jasão encontra seus filhos mortos, pelas mãos de sua própria mãe. Não poderia ter havido vingança maior do que tirar do homem sua descendência. Medeia mata, por ciúme, os próprios filhos, que também são filhos de Jasão, para feri-lo de morte, “fazer sangrar o coração do homem amado do mesmo modo que o seu sangra”.

A personagem Medeia tornou-se símbolo de mulher traída, capaz de transformar amor em ódio para vingar-se do homem pelo qual se apaixonou. Ela é a mulher que Eurípides usou para demonstrar até onde vai o desejo de vingança do ser humano e quantas atitudes horrendas é capaz de cometer em nome de uma traição.

A tragédia grega, Eurípides e a adaptação de Luiz Galdino:

O teatro é uma das formas de expressão literária que a antiga Grécia mais usou para demonstrar seus anseios e tormentos. Com o passar do tempo, essa arte criou vida própria e invadiu Roma, Inglaterra e França.

Eurípides, dramaturgo grego, escreveu a peça Medeia no ano de 431 antes de Cristo. Naquela época, o teatro era responsável pela construção e educação do homem grego, em particular do ateniense. As peças apresentavam discussões sobre os acontecimentos cotidianos dos atenienses, baseando-se nos mitos. O papel da mulher na cultura ateniense foi discutido de maneira bastante trágica nesta peça. O que poderia acontecer, se uma mulher coberta de emoção e paixão, sentimentos irracionais para os gregos, em oposição ao homem racional, decidisse resolver suas mágoas com suas próprias ações? Eurípedes focaliza sua obra Medeia em uma personagem feminina, pois na Grécia Antiga a mulher era vista como fraca, seu papel era cuidar do lar e de seu marido. Medeia mostrou a angústia, o sofrimento que pode morar dentro de um coração e as consequências desse sofrimento. No caso da obra, não poderia haver maior vingança do que tirar do homem a sua família.
Eurípedes é um dos trágicos mais conhecidos e estudados. Ele humaniza a tragédia, sobretudo quando questiona a virtude dos deuses. O realismo é outra característica de Eurípides, na qual as paixões humanas fora de controle são o motor da tragédia. Foi também o responsável por levar para a tragédia dramas individuais e cotidianos, e por incorporar nos textos as mudanças que ocorriam no pensamento do homem grego, que buscava justificar suas ações e relativizar valores até então inquestionáveis. Ele retrata os homens da maneira como agem, sem pretender mostrar como devem ser.

Luiz Galdino é um escritor paulista que se destaca em obras para jovens e crianças. Dos prêmios brasileiros mais importantes, ele conquistou o Jabuti, com Terra sem males; e o João-de-Barro, com Sacici Siriri Sici. Foram quase trinta prêmios com cerca de quarenta títulos publicados, inclusive no México e nos Estados Unidos.
Para ler o livro: http://www.lendo.org/wp-content/uploads/2007/06/medeia.pdf

 Algumas obras de arte que remetem à Medeia:

Medeia, de Paul Cézanne

 
Medea, de Henri Klagmann, Nancy, Musée des Beaux-Arts

 

  Curiosidades sobre algumas interpretações teatrais a partir da tragédia grega Medeia:
No filme de 1963, Jason and the Argonauts (Jasão e os Argonautas), Medeia foi interpretada por Nancy Kovack.

Medeia é a personagem Joana de Gota d'Água, peça teatral dos escritores brasileiros Chico Buarque e Paulo Pontes, escrita em 1975, e publicada em livro homônimo em 1975. A ideia foi originalmente derivada de um trabalho de Oduvaldo Viana Filho, que adaptara a peça grega clássica de Eurípedes sobre o mito de Medeia, para a televisão, e à memória do qual foi dedicada.
A tragédia de Eurípedes foi transformada em filme duas vezes, pelo italiano Pier Paolo Pasolini e pelo dinamarquês Lars Von Trier.

(Publicado por Maria do Carmo Gallo Cruz)

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