segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Resenha Literária: COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. 10ª Reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Educação
Programa de Pós-graduação em educação e inclusão social
Disciplina: Literatura e multimodalidade na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.
Professoras: Célia Abicalil Belmiro e Monica Correa Baptista
Aluna: Raquel Cristina Baêta Barbosa

RESENHA


COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. 10ª Reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
António Emílio Leite Couto (Mia Couto) é africano de Moçambique, formado em Biologia, atua nas questões de impactos ambientais. Desde a sua juventude produz textos literários, e hoje apresenta uma vasta produção na literatura em diferentes gêneros, incluindo romances, poesias e crônicas. É considerado um dos escritores africanos que mais têm suas obras traduzidas para outras línguas.

“Terra Sonâmbula” é o primeiro romance de Mia Couto, publicado em 1992, recebeu o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e, foi considerado, por um júri na Feira Internacional do Zimbabwe, um dos doze melhores livros africanos do século XX.
O pano de fundo da história narrada é a guerra do Moçambique. O enredo é marcado pelo realismo, crueldade e brutalidade, características que podem assustar e surpreender o leitor. A narração é dividida em duas histórias que se encontram. Há um capítulo que narra os caminhos percorridos por um jovem, Muidinga, e um velho, Tuahir, que vivem na pele todas as consequências desumanas de uma guerra e, um outro capítulo em que  a história de escritos contidos em  um diário encontrado na mala de um homem morto, Kindzu, que também sofreu com a guerra, é lida pelo jovem. Os capítulos que não são nomeados por cadernos de Kindzy são aqueles que tratam da trajetória do velho e do menino, e os capítulos que são enumerados pelos cadernos do homem morto, são os relatos do seu diário.
As leituras realizadas pelo jovem, para o velho, eram oportunidades que eles tinham de sair da crueldade e da falta de esperança da realidade vivenciada e ir para um outro mundo. A leitura dos escritos do diário permitia que eles criassem realidades paralelas que ajudavam a seguir a viagem marcada pela falta de condições mínimas de sobrevivência. A história lida por eles é de um homem que saiu de casa para tentar encontrar um sentido para sua vida. Nesta narrativa há também elementos da desigualdade social, da discriminação, das crenças que destroem vidas, de amores proibidos, de autoritarismo, de injustiças.
Esta obra evidencia o sofrimento humano de pessoas que se inseriram no contexto da guerra e mostra as estratégias utilizadas por elas para conseguirem sobreviver sem enlouquecer com a ausência de condições básicas e mínimas de sanidade.
As estratégias mais evidenciadas são a leitura e a escrita. A leitura auxiliou os dois caminhantes e a escrita ajudou o homem que foi em busca de um sentido para a sua vida. Esse romance me convidou a refletir sobre a relevância da Literatura na vida dos sujeitos, ao ampliar as possibilidades de se pensar e se organizar a realidade posta, ao permitir que a crueldade vivenciada fosse suavizada, que sonhos fossem construídos, juntamente com diálogos e extrapolações do real.
A leitura da obra nem sempre traz sentimentos bons, gera angústia e reflexão sobre as consequências da disputa de poder nos seres humanos comuns. É um livro que traz qualidade relevante em diferentes aspectos gráficos e textuais e, mantém o leitor concentrado na leitura. Os fechamentos dos capítulos são sempre um convite para o seguinte. É uma obra que já foi publicada em diferentes edições que apresentaram distintas capas. Foram coletadas algumas das capas das distintas versões da obra publicadas aqui no Brasil:

A leitura da obra “Terra Sonambula”, marcada pela tragédia humana da guerra,  me remeteu a uma obra que retrata um contexto difícil da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo e a personagem principal recorre à leitura para se distanciar um pouco do sofrimento vivido diariamente.  “A Menina que roubava Livros” é também uma obra intensa que retrata a realidade na visão de uma criança que ficou órfã e foi adotada por uma família extremamente pobre. O pai adotivo a ensina a ler e a escrever e a partir daí a menina recorre a livros o que a possibilita lidar melhor com a crueldade do nazismo.

 

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