Universidade Federal de
Minas Gerais
Faculdade de Educação
Programa de
Pós-graduação em educação e inclusão social
Disciplina: Literatura
e multimodalidade na educação infantil e nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Professoras: Célia
Abicalil Belmiro e Monica Correa Baptista
Aluna: Raquel Cristina
Baêta Barbosa
RESENHA
COUTO,
Mia. Terra Sonâmbula. 10ª
Reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
António Emílio Leite Couto
(Mia Couto) é africano de Moçambique, formado em Biologia, atua nas questões de
impactos ambientais. Desde a sua juventude produz textos literários, e hoje
apresenta uma vasta produção na literatura em diferentes gêneros, incluindo
romances, poesias e crônicas. É considerado um dos escritores africanos que
mais têm suas obras traduzidas para outras línguas.
“Terra Sonâmbula” é o
primeiro romance de Mia Couto, publicado em 1992, recebeu o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos
Escritores Moçambicanos em 1995 e, foi considerado, por um júri na Feira
Internacional do Zimbabwe, um dos doze melhores livros africanos do século XX.
O pano de fundo da história narrada é a guerra do Moçambique. O enredo é
marcado pelo realismo, crueldade e brutalidade, características que podem
assustar e surpreender o leitor. A narração é dividida em duas histórias que se
encontram. Há um capítulo que narra os caminhos percorridos por um jovem,
Muidinga, e um velho, Tuahir, que vivem na pele todas as consequências
desumanas de uma guerra e, um outro capítulo em que a história de escritos contidos em um diário encontrado na mala de um homem
morto, Kindzu, que também sofreu com a guerra, é lida pelo jovem. Os capítulos que
não são nomeados por cadernos de Kindzy são aqueles que tratam da trajetória do
velho e do menino, e os capítulos que são enumerados pelos cadernos do homem
morto, são os relatos do seu diário.
As leituras realizadas pelo jovem, para o velho, eram oportunidades que
eles tinham de sair da crueldade e da falta de esperança da realidade
vivenciada e ir para um outro mundo. A leitura dos escritos do diário permitia
que eles criassem realidades paralelas que ajudavam a seguir a viagem marcada
pela falta de condições mínimas de sobrevivência. A história lida por eles é de
um homem que saiu de casa para tentar encontrar um sentido para sua vida. Nesta
narrativa há também elementos da desigualdade social, da discriminação, das
crenças que destroem vidas, de amores proibidos, de autoritarismo, de injustiças.
Esta obra evidencia o
sofrimento humano de pessoas que se inseriram no contexto da guerra e mostra as
estratégias utilizadas por elas para conseguirem sobreviver sem enlouquecer com
a ausência de condições básicas e mínimas de sanidade.
As estratégias mais
evidenciadas são a leitura e a escrita. A leitura auxiliou os dois caminhantes
e a escrita ajudou o homem que foi em busca de um sentido para a sua vida. Esse
romance me convidou a refletir sobre a relevância da Literatura na vida dos sujeitos,
ao ampliar as possibilidades de se pensar e se organizar a realidade posta, ao
permitir que a crueldade vivenciada fosse suavizada, que sonhos fossem
construídos, juntamente com diálogos e extrapolações do real.
A leitura da obra nem
sempre traz sentimentos bons, gera angústia e reflexão sobre as consequências
da disputa de poder nos seres humanos comuns. É um livro que traz qualidade
relevante em diferentes aspectos gráficos e textuais e, mantém o leitor
concentrado na leitura. Os fechamentos dos capítulos são sempre um convite para
o seguinte. É uma obra que já foi publicada em diferentes edições que
apresentaram distintas capas. Foram coletadas algumas das capas das distintas
versões da obra publicadas aqui no Brasil:
A leitura da obra
“Terra Sonambula”, marcada pela tragédia humana da guerra, me remeteu a uma obra que retrata um contexto
difícil da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo e a personagem principal recorre
à leitura para se distanciar um pouco do sofrimento vivido diariamente. “A Menina que roubava Livros” é também uma
obra intensa que retrata a realidade na visão de uma criança que ficou órfã e
foi adotada por uma família extremamente pobre. O pai adotivo a ensina a ler e
a escrever e a partir daí a menina recorre a livros o que a possibilita lidar
melhor com a crueldade do nazismo.
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